A confirmar-se, o duelo entre Luís Filipe Menezes (PSD) e Manuel Pizarro (PS) será um dos mais estimulantes confrontos políticos a que o Porto assistiu nos últimos anos e não voltará a assistir nos próximos (quem ganhar terá trabalho para dois ou três mandatos). Há dois vencedores antecipados: a cidade e o concelho portuenses. Por mim, gostaria que também a Região Norte saísse vencedora, mas essas são contas para outro rosário.
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A Menezes e Pizarro junta-os o facto de serem politicamente hábeis, notoriamente inteligentes e, pormenor nada despiciendo, ambos médicos. Distingue-os o facto de terem carreiras e obras diferentes. Pizarro diz-se um médico emprestado à política; Menezes é, para o bem e para o mal, um político há muitos anos resgatado à Medicina.
Partem em posições muito distintas para uma luta que, creio, será mais renhida do que parece.
Menezes tem obra feita em Gaia, o que lhe dá uns bons metros de avanço. Apesar de gostarem de contas à moda do Porto - motivo por que sufragaram sucessivamente o economista Rui Rio -, os portuenses olham para a outra margem e gostam do que veem. Acresce que Menezes é, novamente para o bem e para o mal, um produtor de ideias. Acresce ainda que as sabe "vender". É com esses trunfos que o atual presidente da Câmara entrará com facilidade no eleitorado de Esquerda (sobretudo o que está nos bairros sociais), complicando a vida a Manuel Pizarro.
Problema um: de pouco valerão os atributos, se Menezes não resistir à estratégia de desgaste montada por Rio e apaniguados, que virá em crescendo até ao paroxismo. Problema dois: até que ponto escapará Menezes à vontade que o povo tem de penalizar o PSD (supondo que o Governo se aguenta até às autárquicas de 2013, ou que cai pouco antes dessas eleições)? Problema três, ou o efeito Fernando Gomes: o povo desejará tanto Menezes como Menezes acha que deseja? Problema dos problemas: como se resolve o imbróglio da limitação de mandatos?
Eis por que digo que a vinda de Menezes ao Porto não será, longe disso, um passeio.
Manuel Pizarro tem bem menos a perder. Se sair derrotado, ninguém se espantará (a menos que a derrota seja fragorosa). Se vencer, conquistará um tremendo capital político - passará a ser um feroz adversário para quem, dentro e fora do partido, o quiser enfrentar (ou afrontar). Problema um: se, como ele deseja, liderar uma frente de Esquerda, estará obrigado a negociar em permanência. E isso rouba-lhe espaço de decisão. Problema dois: se perder por muitos, é melhor cobrir--se com uma capa dura, porque não tarda e as facadas começam a cair. Problema dos problemas: conseguirá manter o partido unido até ao final da corrida?
Os dados estão lançados. Falta-lhes passar o Rubicão.