As recentes eleições na Baviera confirmam a preponderância de uma nova fronteira política e a dificuldade dos partidos tradicionais em lidar com ela. Cresceu a AFD, partido de extrema-direita antieuropeísta e anti-imigração.
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Mas quem mais cresceu foram os Verdes, com um programa fortemente europeísta e de defesa de uma sociedade aberta. Socialistas e democratas-cristãos foi quem mais perderam eleitorado.
Isto confirma o redesenhar das fronteiras político-partidárias na Europa e os desafios que isso coloca aos partidos tradicionais. De um lado estão aqueles que se opõem ao Mundo interdependente e a uma sociedade aberta. São os populistas soberanistas, à Esquerda e à Direita. Aqueles que oferecem, como resposta às incertezas que a europeização, globalização e digitalização da sociedade trazem, o regresso a uma soberania nacional assente num poder forte, alegadamente capaz de nos proteger dessa interdependência. Do outro lado, estão aqueles que entendem que teremos muito a perder abdicando dessa interdependência. Ou porque as nossas fronteiras nunca nos poderão proteger de questões como mudanças climáticas, novas tecnologias ou uma guerra nuclear. Ou porque a nossa riqueza depende da relação com os outros. Mesmo aquilo que produzimos em Portugal depende da incorporação de produtos e matérias-primas importadas. A democratização no acesso a bens de consumo é decorrente do comércio internacional. Imaginem quanto custariam frigoríficos, televisões e carros totalmente fabricados em Portugal e só com matérias-primas portuguesas. Neste contexto, prometer um controlo nacional destes problemas apenas promove, internamente, uma concentração do poder e, externamente, a negociação através da força. A história ensina-nos isso.
Um lado deste debate está ocupado pelos populistas de Direita e Esquerda. Mas os recentes resultados eleitorais demonstram que há um amplo eleitorado que reconhece o valor da interdependência e que a forma de lidar com ela é reforçando, e não diminuindo, os valores de uma sociedade aberta.
Os partidos tradicionais têm estado tão preocupados com a perda de votos para os populistas que ignoram esse eleitorado... A defesa assertiva de uma sociedade interdependente e aberta oferece riscos políticos, face à divisão dentro dos eleitorados dos partidos tradicionais, mas também uma oportunidade. Sobretudo, é o lado certo. O lado que oferece esperança e não o que alimenta (e se alimenta do) medo. O PS, com a atual coligação, está prisioneiro do outro lado. Irá o PSD escolher o lado certo?
*PROFESSOR UNIVERSITÁRIO