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Os atentados que de forma aleatória têm acontecido nos últimos anos no espaço da União Europeia trazem à memória tempos bem difíceis vividos há algumas décadas. A tentativa de assassinato ao presidente De Gaulle por grupos radicais ligados ao processo de independência da Argélia, o inferno vivido durante anos consecutivos em Itália com a atividade das brigadas vermelhas, com auge no deplorável rapto e assassínio do primeiro-ministro Aldo Moro, ou a ainda fase de rescaldo da atividade terrorista da ETA em Espanha evidenciam infelizmente que este fenómeno continua a fazer parte do quotidiano, tendo por isso que merecer de todos nós um combate permanente.
A Europa como um espaço único de liberdade é um trabalho de várias gerações que, sobretudo a partir da tragédia da segunda grande guerra, se têm empenhado na promoção dos valores da tolerância, da solidariedade e do bem-estar social. É ainda um espaço onde em grande parte do seu território se circula sem as anteriores paragens obrigatórias nas fronteiras, que nestes momentos difíceis vale sempre a pena recordar. Vivi de modo próprio algumas dessas experiências. Recordo uma em fevereiro de 1983, quando partilhei uma viagem à feira internacional de agricultura de Paris com os meus colegas de curso. Isto após anos de trabalho num conjunto multifacetado de iniciativas de angariação de fundos para que ninguém, independentemente de limitações financeiras, deixasse de estar presente nesse momento único das nossas vidas. A humilhação sofrida pelo desdém e a insolência com que durante horas fomos tratados na fronteira de Hendaia pela Polícia francesa, que pura e simplesmente não acreditava no objetivo da nossa viagem, insinuando que apenas buscávamos refúgio em França para procura de emprego, foi um momento marcante. Vivi a seguir alguns anos nessa região francesa e foi muito bom acompanhar as mudanças no nosso país e na Europa, no caminho que permitiu chegar onde hoje estamos.
Por isso não podemos ceder a estas novas formas de terrorismo, que saem agora do nosso meio sob as formas mais estranhas e inverosímeis. Não pode haver camião, automóvel desgovernado, metralhadora ou granada, atirados de forma cobarde e ignóbil sobre pessoas inocentes, que nos retire o ânimo de continuar a lutar pela Europa como um espaço único de liberdade. Mesmo que se perceba que este poderá não ser um caminho sem dor. Mas convictos de que é o único que vale a pena percorrer!
Não pode haver camião, automóvel desgovernado, metralhadora ou granada, atirados de forma cobarde e ignóbil, que nos retire o ânimo de continuar a lutar pela Europa como um espaço único de liberdade.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA U. PORTO