O domingo amanheceu radioso. Céu azul, sem vento, uma temperatura amena propícia para uma caminhada à beira-mar. Foi assim o dia a norte.
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Caminhemos, então. Gaia, com os seus 15 km de costa, constitui uma excelente opção. Pista para ciclistas e um passadiço para peões que permite perceber o esforço de recuperação das dunas e desfrutar da vista de praias rochosas e de uma inebriante maresia. Milhares de pessoas espalham-se pelo areal e muitas centenas caminham, correm, pedalam. Ora aqui está um trabalho bem feito. Há cerca de 40 anos, pouco havia nesta zona. Era possível encontrar praias quase desertas. Depois, veio o crescimento desordenado, a degradação da orla costeira, a poluição das praias. Em Gaia, a costa seguia o percurso do resto da cidade. Marrocos, dizia-se depreciativamente. Goste-se, ou não, do estilo, tudo isto tem vindo a mudar desde que Luís Filipe Menezes chegou à Câmara. A cidade apresenta-se mais ordenada, a Zona Histórica tem vindo a ser recuperada, a parte ribeirinha fervilha: a localização do festival Marés Vivas é ideal, Ben Harper dixit. Graças à vista do Porto, desdenham alguns. Lembram-se do ovo de Colombo?
Para os detractores, a Câmara está endividada. Não sei. Talvez algumas das obras pudessem ter tido um menor orçamento e uma melhor execução. Não me custa admitir. Isso é matéria de orientação governamental e Tribunal de Contas. Não é público que haja qualquer infracção. E o que está à vista é uma autêntica revolução, valorizada pelos eleitores que reelegeram Menezes com uma "votação cubana" e que faz os portuenses sonhar com o fim do mandato de Rio.
2. Na noite de sábado, uma notícia deste jornal levou-me à marginal de Matosinhos para ouvir a sua Orquestra de Jazz (OJM) tocar clássicos das "big band" e do "swing". Apoiada pela Câmara Municipal, a OJM é um bom exemplo de afectação de recursos à cultura, tendo vindo a desenvolver um notável trabalho que lhes deu reputação internacional, os levou a actuar em Nova Iorque, a serem dirigidos por grandes maestros e a tocar com autênticas lendas. A qualidade dos músicos e a sábia direcção de Carlos Azevedo e Pedro Guedes permitem-lhes conciliar excursões vanguardistas com um repertório mais popular, que vai de acompanhar Maria Rita à recriação dos temas clássicos das grandes orquestras de jazz. Um exemplo! No sábado partilharam com os passeantes algumas dessas músicas, num ambiente informal que atraiu algumas centenas de pessoas. Sabiamente, estas foram alargando o círculo de forma a que todos ouvissem e vissem. Eis senão, já o espectáculo ia a meio, aparece um grupo de "inteligentes", calcinha branca, pulôver de marca pelas costas, que se vai pespegar à frente de todos. Ali é que se via e ouvia bem! Ninguém se havia lembrado disso! "Que burros que são". Houve um pequeno burburinho, uma ou outra reacção, mas o respeito pela música e pelos músicos prevaleceu. No fim, quando alguém lhes chamou a atenção, olharam-na com desdém, como quem diz "reduzam-se à vossa insignificância". É, também, por causa destes fascistazitos que estamos como estamos.