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O casamento de Emmanuel e Brigitte Macron está longe de ser o mais ortodoxo. A diferença de idades é expressiva (ela é 24 anos mais velha) e a primeira-dama francesa foi professora do presidente da República francês durante a juventude deste. Descontados os preconceitos, há que reconhecer que a tudo isto os dois responderam com elevação e cumplicidade, apesar das incontáveis piadas e teorias da conspiração. Até que Candace Owens, uma conhecida influenciadora norte-americana, veio repisar um "segredo" de polichinelo: Brigitte é, afinal, um homem. A "verdadeira" Brigitte morreu há uns anos e o irmão, Jean-Michel Trogneux, assumiu a identidade desta, submetendo-se a várias cirurgias. Na cabeça delirante desta acérrima apoiante de Trump ainda houve espaço para outras efabulações: o presidente e a primeira-dama são parentes por linha sanguínea direta e Macron é produto de uma experiência laboratorial da CIA. Na verdade, o boato sobre a identidade de Brigitte tinha sido plantado uns anos antes, em 2021, num canal do YouTube frequentado por videntes.
Esta história podia ter terminado assim: o casal processava a influenciadora por difamação e o processo seguia o seu curso. Contudo, o boato ganhou mais pernas do que uma centopeia e os Macron, que ficaram profundamente desgastados, disponibilizaram-se, agora, para mostrar provas ao tribunal norte-americano de que Brigitte Macron é mesmo uma mulher. "Trata-se de defender a nossa honra, isto é um disparate", explicou o presidente francês. As provas incluem, entre outras coisas, fotos de Brigitte grávida e a cuidar dos filhos.
Para limpar o nome, o casal presidencial de uma das nações mais poderosas do Mundo está disposto a violentar o seu passado e a sua intimidade, cedendo, ainda que de uma forma que se compreende, ao vírus da intoxicação mediática. Mesmo que provem o que parece evidente, o mal está feito e a pegada destrutiva permanecerá. A desinformação é um monstro à solta, sem moral nem complacência. Dilacera todos, até os que julgávamos inquebrantáveis.