Nos últimos seis anos, já perdemos a conta aos anúncios do Governo em obras e investimentos na ferrovia. Infelizmente, também perdemos a conta às notícias que desmentem essa propaganda, que procura mostrar um país pintado de rosa que não existe. Uma realidade alternativa.
Com a prioridade e a centralidade que a descarbonização, o cuidado pelo ambiente e a coesão territorial impõem às políticas públicas, o investimento na ferrovia assume uma importância e urgência que tem sido negligenciada, fazendo parte dos discursos, mas não das ações.
Há uma semana, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos (PNS), anunciava "a maior compra da história da CP", 819 milhões de euros. Só se esqueceu, ele e muitos que se referiram ao anúncio, que este investimento estava previsto e foi sucessivamente adiado desde 2015. Pormenores, dirá a clubite socialista.
Conhecemos (bem demais) a distância que vai entre os anúncios do Governo e a realidade vivida pelos portugueses. Em 2019, ainda antes das eleições europeias - em que o antecessor de PNS, Pedro Marques, atual eurodeputado, encabeçou a lista do PS ao Parlamento Europeu -, anunciou e repetiu o anúncio várias vezes sobre um investimento também ele sucessivas vezes adiado.
Mas, para os portugueses era de facto importante que os números políticos do Governo não fossem só encenações. O país precisa de um impulso no uso de transporte ferroviário, seja ele de passageiros ou de mercadorias. Veremos, por isso, quando é que o concurso abre e quando é que o equipamento ferroviário está disponível.
Enquanto esperamos, e por muito paradoxal que os anúncios governamentais pareçam, sucede que a CP está a suprimir comboios por falta de maquinistas. Infelizmente para Pedro Nuno Santos, as desculpas de desinvestimento do Governo PSD seis anos depois já não colam. Na verdade, a diferença entre o que sai da boca do Governo e a realidade é tão grande, que a situação seria cómica, se não fosse tão preocupante. Os governos de António Costa parecem ter um grande talento para anunciar, mas não para executar.
Entretanto e enquanto meio país se prepara para ir a banhos, e também a propósito do transporte público ferroviário, o país assiste a um presidente da CP, nomeado pelo PS, que faz ajustes diretos com uma sua própria empresa no valor de quase 800 mil euros. Empresa da qual o seu vice-presidente da CP, só por acaso, é gerente. De facto, a legalidade não substitui a moralidade, e este Governo está há muito completamente descarrilado da ética e da moral. A CP foi mais célere a dar de ganhar à sua administração do que a resolver o problema da falta de maquinistas. Prioridades, digo eu.
*Eurodeputada do PSD
