O Centro Ismaelita de Lisboa, as pessoas envolvidas nas atividades que desenvolve e os seus familiares estão de luto porque foram assassinadas duas mulheres que se dedicavam a ajudar, a acolher e a ensinar refugiados. Foram mortas por um homem refugiado, também ele ismaelita, que beneficiava da sua ajuda.
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A comoção no país foi generalizada. Como foi generalizada a condenação do ato criminoso, a solidariedade com as famílias das vítimas, a valorização do trabalho de acolhimento e de integração de refugiados desenvolvido pelo Centro. Conheço bem o trabalho que fazem, visitei-o várias vezes, e também eu me comovi.
Importa dizer que o que se passou no Centro Ismaelita foi, infelizmente, um crime. Portugal é um país seguro, mas onde, apesar de tudo, existem casos de crimes violentos. Todos os anos morrem dezenas de mulheres vítimas de violência doméstica. Situações que condenamos e procuramos combater, mas nem sempre conseguimos evitar.
No Centro Ismaelita foi cometido um crime, que podia ter ocorrido em qualquer outro lugar. Foi cometido um crime por um refugiado afegão que podia ter sido cometido por um português. Foram mortas duas mulheres, podiam ter sido mortos dois homens. O que se passou no Centro Ismaelita é um assunto criminal e de justiça, não é um assunto de imigração ou de política de refugiados.
Portugal é um país que acolhe poucos refugiados. Na crise da Síria, Portugal acolheu cerca de um milhar de refugiados, apesar de todas as diligências do ex-presidentes da República Jorge Sampaio. A Suécia, país da dimensão de Portugal, acolheu, no mesmo período, dezenas de milhares de refugiados sírios. Não somos, infelizmente, um país muito atrativo em termos de imigração e, sobretudo, de asilo. Não há razão para considerar que temos as portas demasiado abertas. Pelo contrário.
O espaço de reflexão sobre as políticas de imigração e de refugiados, bem como a melhoria dos processos de acolhimento de imigrantes, deve estar permanentemente aberto. Temos muitos desafios para melhorar as condições de trabalho e de integração de migrantes que procuram oportunidades de vida no nosso país. Porém, tais reflexões e debates ganharão se não se basearem em conclusões simplistas e precipitadas de casos como o do Centro Ismaelita, que nada tem a ver com este assunto.
Um crime é sempre um crime. Generalizar a culpa, atribuindo responsabilidades ao Governo e às políticas, ou a uma qualquer comunidade, significa desresponsabilizar quem o praticou e substituir a justiça pela demagogia e pela estigmatização.
Professora universitária