Nenhuma estatística fornece uma imagem credível da sociedade portuguesa. Segundo o INE, o valor do rendimento médio depois de impostos é cerca de 11 mil euros anuais por cada agregado fiscal (menos de mil euros por mês); diz-nos a Pordata que o salário médio mensal anda pelos 970 euros.
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Que vemos no dia a dia? Verdadeiros tapetes rolantes feitos de carros (novos na maioria) em todas as vias de acesso das grandes cidades - aquelas onde moram o consumismo desenfreado e a fome desesperada - , a VCI, a 2ª circular, a A2, a A3, a A4, a A5, de manhã, de tarde, de noite; dias a fio, desde novembro, filas indecentes só para entrar nos centros comerciais; a circulação febril dos veículos de entrega de compras online; o desaparecimento nas lojas de tudo o que está "a dar" e é caro (certa PlayStation esgotou-se em poucas horas).
A massiva evasão fiscal, a criminalidade mafiosa, os vários tipos de corrupção, e (claro) a insensatez de muitos ajudam a perceber, em parte, essa ostensiva opulência.
Por outro lado, com covid ou sem ela, são muitas as famílias (incluindo advogados) que recorrem aos bancos alimentares, às misericórdias, às paróquias, a todo o tipo de obras assistenciais, aos restos de restaurantes e supermercados, para garantirem algo de comer.
Sabe-se lá quanto endividamento, quantos cartões exaustos, quantas rendas por pagar estão por detrás de muitos desses casos! Não são exceções - são centenas de milhares. Do ponto de vista moral, Portugal não é sítio que se recomende.
Professor universitário
