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Em Portugal, continuamos a questionar sobre que cidades queremos desenhar. Mas poucas ainda resultam de um planeamento multidisciplicar, integrado e holístico.
Hoje, com tantas variáveis que se têm de integrar na equação, face aos enormes desafios, deveria ser impensável implementar políticas, sem ter por base um modelo de cidade!
Pontevedra, na Galiza, é reconhecida mundialmente como uma cidade exemplar nas intervenções do espaço público e qualidade do ambiente urbano. Conversando com o seu mentor, o alcaide e meu amigo Miguel Anxo Lores, fica claro que é o resultado de um modelo de cidade, determinado e sem medo!
Atuou na mobilidade urbana, sim, mas em muito mais. Sabia que não poderia autorizar shoppings e grandes superficies para ter o comercio local vivo. Sabia que não poderia haver especulação imobiliária no centro para haver habitação e comprou terrenos para controlar os preços. Sabia que os parcómetros nem sempre resolvem a rotatividade de estacionamento porque há sempre quem não se importe de pagar mais. Sabia que a fiscalização humana tem muitas falhas e inovou com veículo “fiscal”.
Em síntese, humanizou a cidade, sem proibir os carros no seu centro, mas desenhou-a de tal forma que poucos são os que circulam nas ruas. Sendo médico, sentia que queria curar a cidade como se fossem os seus pacientes e, por isso, cortou o tráfego, eliminou estacionamentos, redesenhou a cidade, apostou na multifuncionalidade dos usos e funções e percebeu que tinha ganho a aposta, quando ouviu, pela primeira vez, uma bola bater na janela do edifício da câmara! As crianças tinham voltado a brincar na rua!
Gracias, Alcaide Miguel Lores. Obrigado por mostrares ser possível.