O Nobel da Economia Joseph E. Stiglitz apareceu, depois de um aviso no twitter, na Praça do Retiro, em Madrid, onde decorre o primeiro Fórum Social do movimento 15-M.
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A aula que deu no curso de Economia Política, perante centenas de jovens à sombra das árvores, durou doze minutos. É divertido ver nas fotos, de megafone na mão, este economista norte-americano que foi alto responsável do Banco Mundial e que já recebeu todos os prémios possíveis da área a que se dedicou. O professor, que tem analisado com coerência e lucidez a crise financeira mundial, resumiu o que pensa.
Começou por declarar-se "alheio ao movimento" e disse ver ali "uma energia reconfortante" que espera que seja "usada de forma construtiva".
O movimento dos Indignados do 15-M, que nasceu espontaneamente no passado mês de Maio e se foi organizando de uma forma inédita, tem provocado perplexidade. Já foi comparado ao Maio 68 em França, criticado por não apresentar alternativas, acusado de inconsistência, mas o que se sabe é que dele fazem parte jovens adultos, estudantes ou já formados, que recusam o pré-estabelecido e a cada passo encontram novas formas de organização, protesto e luta. No passado fim-de-semana, "indignados" provenientes de toda a Espanha confluíram em Madrid e fizeram algo parecido com um congresso.
O inesperado Stiglitz reafirmou-lhes o que tem vindo a defender: "A crise revelou que os mercados pouco regulados não são justos nem estáveis. É evidente que a economia de mercado não está a funcionar como devia".
Nestas frases misturam-se factos, interpretações, planos, vidas precárias, famílias em perda, enriquecimento ilícito, tácticas políticas de curto prazo. Em última análise, uma enorme indiferença perante os 12 milhões a morrer na aridez da Somália.
"Não se pode substituir as más ideias pela ausência de ideias, é preciso trocá-las por boas ideias", disse o professor da Universidade de Columbia, que acrescentou que conseguir que estas se integrem no debate público "requer organização e liderança".
"Vai ser uma luta difícil, porque as más ideias estão assentes no discurso económico dominante, mas agora temos uma grande oportunidade para unir a ciência económica com o compromisso e a justiça social e conseguir assim uma nova economia".
A organização e a liderança não estavam certamente na origem do movimento dos "acampados" de Madrid, hoje a preparar iniciativas para os próximos meses.
"Desejo-vos a maior das sortes", concluiu o homem do megafone. No twitter, alguém escreveu que ele estava emocionado.