<p>Alvo: o Governo. Instrumento estratégico: "frentismo" de Esquerda. À primeira vista, há similitudes. Porém, qualquer semelhança entre o congresso "Portugal: que futuro?" , promovido há quase 15 anos, e o Fórum das Esquerdas, que aqueceu o fim-de-semana político, é pura coincidência. Porque o Governo não é hoje da mesma cor - Cavaco Silva mudou-se para Belém. Porque o "frentismo" encolheu - o PS, então caçador, faz agora o papel de presa e até o PCP se demarcou oficialmente do encontro. Porque Mário Soares, patrocinador do congresso a partir da Presidência da República, em 1994, torce o nariz ao fórum.</p>
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Não era de esperar, vistas as coisas por este prisma, que o Fórum das Esquerdas tivesse tanto sucesso como o Congresso "Portugal: que futuro?", que tão fortemente ajudou à morte política do cavaquismo. Nem o derrube do Governo está no horizonte daquela gente tão diversa, reunida para debater o papel dos serviços públicos numa democracia. O que eles almejam, por mais que Manuel Alegre fale em "alternativa de poder", é apenas uma nesga de influência no rumo da governação. Objectivo que não dispensa um ponto prévio: que se entendam.
O fórum acolheu independentes, bloquistas, socialistas praticantes (alguns até deputados do PS) e não praticantes, ex-comunistas, comunistas que de "ortodoxos" passaram a "renovadores" e mesmo comunistas com cartão do PCP, como Carvalho da Silva. Além de Alegre - que certa Comunicação Social trata como se ele próprio fosse uma corrente política - e dos amigos que agrupa no MIC. Tamanha pluralidade, na ausência de uma estrutura orgânica que lhe empreste coerência, ganha em riqueza de troca de ideias o que perde em eficácia política.
Durma Jerónimo de Sousa descansado. Dali não vem mal ao mundo, nem o BE, ainda que o queira, pode arrogar-se representante único dos participantes no Fórum. Também Sócrates pode baixar a guarda. Quando exortou a Oposição a deixar-se de politiquices - como se o tempo de crise económica desautorizasse a expressão de alternativas políticas para a debelar, em nome de uma suposta unidade de acção - foi também ao Fórum das Esquerdas que quis dirigir-se. Não tem razão para preocupações.
P. S.: Perdi-me na história ou escapou-me pelo meio algum capítulo. Então Paulo Portas e Luís Nobre Guedes não eram unha com carne? Como pode este andar a defender coligações que aquele não deseja? O que leva Luís a insinuar que foi Paulo quem o impediu de ser eleito para o congresso do CDS, sem ele se dar ao trabalho de negar? O "Contra-Informação" tem rapidamente de mudar o guião. Pelo menos do "Pobre Guedes".