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O tema desta crónica parece próprio da chamada silly season e como dizia Freitas do Amaral nos tempos do PREC, seria cómico, se não fosse grave. Trata-se da descoberta de uma nova comunidade instalada em Seixo da Beira, Oliveira do Hospital que aparentemente quer ser um “reino” independente.
Tudo terá começado há cerca de três anos quando um ex-futebolista dinamarquês Pione Sisto, proprietário do terreno em causa, deixou que lá se instalasse um conjunto de pessoas de vários países e proveniências, inspirados ou “comandados” por um guru que agora assumiu o nome Água Akbal Pinheiro.
Este antigo cozinheiro natural do Zimbabué, que emigrou para o Reino Unido aos 20 anos, é o grande dinamizador desta nova comunidade que, tanto quanto foi tornado público pela revista Visão, quer ser tratada como uma entidade soberana.
Este fenómeno de comunidades que se agrupam em torno de um líder espiritual tem vários exemplos conhecidos nos EUA e em alguns países africanos e quando temos notícias delas normalmente é sempre pelas piores razões. Recordo-me que o último caso que indignou a opinião pública mundial foi exatamente o de uma comunidade/seita instalada num país de África Central, em que o guru convenceu os seus seguidores de que a melhor maneira de chegar mais perto de Jesus Cristo era iniciarem um jejum por tempo indeterminado. Como é fácil de perceber, as más notícias que recebemos dessa “experiência” foi a morte de dezenas de pessoas, incluindo muitas crianças.
Longe de mim considerar que este “Reino do Pineal”, como se autointitula, esteja a preparar-se para uma tragédia semelhante. Não conheço nenhuma informação que aponte nesse sentido e pelos vistos tanto a Câmara de Oliveira do Hospital como outras autoridades oficiais já iniciaram processos de investigação para se certificarem de que aquilo que se faz neste “reino” não viola nenhuma lei do Estado português.
Como é evidente nada me move contra pessoas nacionais ou estrangeiras que decidem recolher-se em comunidade para em conjunto se isolarem do mundo exterior e desenvolverem as atividades e meditações que os levam mais perto da felicidade sonhada. A única coisa que evidentemente é preciso apurar e perceber é se alguma dessas atividades ou procedimentos desrespeitam a igualdade de todos os cidadãos perante a lei e isto porque no Seixo da Beira, em Oliveira do Hospital ou noutro sítio qualquer de Portugal, independentemente da lei divina ou espiritual mais desejada, são as leis do Estado português que estão em primeiro lugar.