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Vivemos um tempo em que a inteligência artificial está a entrar na agenda diária da vida de todos nós, com imensas implicações na gestão da nossa inteligência emocional.
Um tempo complexo em que se vai evidenciando algum tipo de ódio ao conhecimento e à investigação científica quando se observa que o negacionismo parece querer ganhar pleno reconhecimento. Tudo parece estar subjacente a uma teoria da conspiração, muitas vezes apoiada ou reforçada por agentes religiosos que se vão aproveitando da ignorância de muitos.
Estes ignorantes vão andando pelas redes sociais a dizer as mais variadas aleivosias, sem serem penalizados. Acabam mesmo por nos fazer recordar Umberto Eco, cuja preocupação não era as consequências da inteligência artificial, mas antes a consequente capacidade de bem se utilizar a inteligência humana.
Este debate entre a máquina e o homem é já um clássico constante. Assim foi na Revolução Industrial e, também, já no mítico filme "2001 odisseia no Espaço", onde podíamos observar esse receio que de uma forma feliz, nos anos 80 do século XX, Alvin Toffler desmistificou ao anunciar a terceira vaga da sociedade da informação.
O erro, a hipótese e a tentativa são normais até ao processo final que vai permitir resultar na descoberta científica. Daí que as dúvidas do atual secretário da Saúde americano, também ele um Kennedy, que deixaria o seu pai com muita vergonha deste tipo de comportamento, não possam ser fundamentadas só num ataque ao uso das vacinas ou nas certezas sobre a causa do autismo.
Nada disto admira se olharmos para a História e se compreendermos o que viveu Copérnico, Giordano Bruno ou Galileu para imporem as suas bases científicas, levando este último a concluir, após ter abjurado junto da Inquisição, a propósito da rotação da Terra, que esta afinal se movia.
Num momento em que a inteligência artificial invade o nosso quotidiano, é curioso assistirmos, por outro lado, ao regresso das ciências sociais, com destaque para a Filosofia. Esta interligação entre as ciências sociais e as ciências exatas apresenta-se como necessária para se combater a ignorância que nos parece querer estar a assaltar.
Afinal, o processo de decisão em política não pode deixar de equacionar uma resposta tecnocrata refletida de acordo com o direito, a filosofia, a história e também, porque não, a geografia e a psicologia.
Cada vez mais, vamos ter de saber compreender que a nossa Gestalt é um campo da psicologia que estuda como percebemos o Mundo como um todo, em vez de partes isoladas, seguindo princípios de organização visual, como a proximidade, a similaridade, a continuidade e o fim. O todo é maior que a soma das partes e a nossa perceção reflete-se naquilo que queremos para as nossas comunidades.
Teremos, pois, de compreender que o Mundo para se desenvolver precisou de associar o capital, a ciência e a arte. Desde os Medici, em Florença, foi isso que nos fez evoluir como comunidade responsável e democrática.
Daí a recomendação para a leitura de "O príncipe", de Maquiavel, neste ambiente de procura de um novo Renascimento.