A entrevista do primeiro-ministro ao "Expresso" marca a rentrée e o regresso da política. António Costa veio propor o estabelecimento de um pacto de regime em torno do investimento em infraestruturas e uma estratégia para os fundos comunitários após 2020. O desafio faz todo o sentido e a prioridade ao consenso só peca por tardia. O PSD apressou-se a criticar a ideia. Melhor fariam os partidos, todos, se contribuíssem seriamente para este debate.
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Não sabemos quem vai liderar o país na próxima década. Mas sabemos já quem veio marcar a agenda quanto ao que Portugal vai ser a partir de 2020. Costa quer um programa de investimentos aprovado por dois terços da Assembleia da República. O que pressupõe um debate, profundo e sério, e garante uma estabilidade no rumo que vamos seguir.
Ao longo de anos, a Associação Comercial do Porto tem vindo a defender exatamente isso, instando os partidos a colocarem-se de acordo quanto a prioridades. Não podemos andar, como desde há 40 anos, entre o faz-se um TGV, anula-se o TGV; faz-se um aeroporto na Ota, faz-se um aeroporto no Montijo; investe-se nos portos, já não se investe nos portos. Estamos a falar de algo, entre estudos, pareceres, adjudicações e indemnizações, que custa ao país dezenas de milhões de euros. Sem que se tenha sequer chegado a pregar um prego em qualquer uma destas famosas grandes obras.
O pacto de regime em matéria de infraestruturas é obrigatório e é urgente. O adiamento de decisões é ruinoso para as nossas necessidades de desenvolvimento. Temos opinião. Fomos contra a Ota e explicámos, há dez anos, porquê; defendendo a solução Montijo, agora finalmente assumida. Somos contra o novo porto do Barreiro e temos vindo a explicar porque se deve antes investir em Sines e em Leixões. A nossa obrigação, representando a comunidade empresarial e a sociedade civil do Norte, é trazer contributos ao debate e propor soluções. Mas as decisões, essas, cabem aos políticos, que para isso são eleitos.
O PSD, extemporaneamente, já recusou o desafio do primeiro-ministro e rejeitou o debate. Faz mal. Tenho pena. O que se espera de um partido que quer ser Governo é que tenha ideias, sugira alternativas e discuta propostas. O calendário de António Costa pode não ser o melhor? Pode. Há autárquicas em outubro e legislativas em 2019? Sim, não é novidade. É a democracia a funcionar. Os cidadãos esperam que os políticos arranjem soluções, não desculpas. O líder do Governo faz política. Eu preferia que fosse ao contrário, mas o PSD, infelizmente, prefere fazer de conta.
* EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO