Quantas mulheres não tiveram já de recusar um convite para um lugar de direção, um cargo político ou tão-só para um passeio, um café com as amigas em relaxada cavaqueira e quantas não o fizeram tristes, mas com uma interiorizada sensação de inevitabilidade, porque os filhos são pequenos, os pais estão velhos e precisam delas, a casa não resiste à sua ausência, o tempo livre é curto e para ser "desperdiçado", e o mais que elas sabem muito bem?
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Teria de ser assim? Algumas vezes sim, outras nem por isso. Se houvesse maior atenção à conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional, se os deveres de cuidado fossem valorizados e repartidos de forma mais equilibrada, talvez menos mulheres tivessem de prescindir dos seus desejos, aqueles que se repercutem no resto da sua vida, e dos momentos que contribuem para o seu bem-estar pessoal.
Foi esse o objetivo do Programa "3 em Linha", as três vidas que todas temos, pessoal, familiar e profissional, que o Governo lançou em 2018, sabendo que esse equilíbrio não é somente uma infraestrutura essencial para tornar efetivas outras igualdades, da representação política à profissional, mas também para que o direito à vida pessoal e ao tempo para a cultura e o lazer não seja para muitas mulheres uma utopia.
Entre as medidas previstas naquele Programa estava o Pacto para a Conciliação, cujo objetivo é reunir organizações públicas e privadas que assumem o compromisso de implementar e de certificar um sistema de gestão da conciliação.
Para o efeito, as organizações desenvolvem práticas concretas que visam melhorar o dia a dia de trabalhadores e trabalhadoras, através de formas flexíveis de organização do trabalho, garantindo serviços e apoios em áreas como a medicina curativa, os cuidados a dependentes e protocolos com prestadores de serviços.
O Pacto começou com 47 organizações participantes e hoje são já 75, do setor público e do privado.
Uma delas é o grupo das Águas de Portugal, uma das primeiras quatro entidades nacionais a obter a certificação do respetivo sistema de gestão para a conciliação. Entre as boas práticas desenvolvidas estão horários flexíveis, mobilidade interna, sessões de ginástica, a iniciativa "Parabéns o dia é teu" (dispensa no dia de anos), bolsas de estudo, conciliação do trabalho com a formação escolar e profissional ou o voluntariado corporativo.
Algumas empresas, como foi o caso da CPLAS, uma empresa de transformação de plástico, avaliaram já positivamente os impactos das medidas assumidas em matéria de retenção e captação de talento, diminuição do absentismo e aumento da produtividade, como a Sandra Pontedeira nos contou com muito orgulho.
Sabemos que este não é um programa que mude a realidade de um ápice. Exige tempo, persistência e combate em muitas frentes, como tem sido feito desde 2018. Os resultados até agora conseguidos mostram que vale a pena prosseguir, até que chegue o dia em que programas como este nos pareçam coisas do passado. Esse é mesmo o seu grande objetivo.
*Eurodeputada do PS