<p>Se fosse nos tempos em que todos aqueles que tinham qualquer doença mental eram considerados loucos, os resultados do estudo, anteontem apresentados na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, dariam azo a justificar o título que encima este artigo. "Portugal é o país com maior prevalência de perturbações psiquiátricas no Mundo", afirmou o coordenador nacional de Saúde Mental, o professor doutor Caldas de Almeida. Segundo o referido estudo, um em cada cinco portugueses sofre de perturbações psiquiátricas. É evidente que, no foro clínico, muitas destas perturbações se dissolvem em casos de menor preocupação como patologias ligadas à ansiedade, pânico, diferentes fobias sociais, estados de stresse, etc. </p>
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Esta situação agrava-se quando se tem a informação de que a maioria destes sofredores de perturbações não tem qualquer acesso a tratamento adequado. Enfim, com este panorama, não sei se o povo da rua soubesse destes dados e das suas possíveis consequências, embora contra a visão científica do assunto, não diria mesmo: "Estamos num país de loucos".
Com todos os descontos entre o diagnóstico científico e a versão popular, a questão é séria. E sem avançar pelo lado das considerações científicas que compete aos médicos, direi que não são de todo invisíveis na sociedade portuguesa retratos desta sintomatologia de perturbações mentais. Nos sinais visíveis deslumbra-se um clima social de depressão, manifesto na conflitualidade das relações humanas ao nível da praça pública no uso de uma rispidez de trato, dentro de portas pelo crispação de comportamentos domésticos que elevam as cifras dos maus-tratos e de práticas aberrantes, no aumento de acções criminosas cada vez mais sanguinárias.
Estamos num campo onde possivelmente mais se confundem as causa e os efeitos. Evidentemente que há factores de enorme constrangimento na sociedade portuguesa que vão desde as baixas condições financeiras de pobres ordenados, ao galopante desemprego, desde os confrontos culturais entre gerações de hábitos encrostados a velhos ditames morais e os comportamentos de grande liberalismo trazidos pela modernidade dos tempos.
Mas o pior é que a evidência destes sintomas está entre os cidadãos que, pela responsabilidade que têm nos mais diversos patamares da vida pública, deveriam ser os primeiros a desdizer que não estamos num país de loucos.
P.S.: Acabo de saber da redução dos castigos dos jogadores do F. C. Porto de quatro e seis meses para três e quatro jogos. É revoltante. Estão "loucos" ou os primeiros ou os segundos que aplicaram os castigos. Não começa neste campeonato "o novo ciclo do futebol português".