Um país de políticos, não de políticas
Os populistas nunca viveram dias tão radiantes em Portugal. Da esquerda à direita, é extenso o pasto de que dispõem para alimentar as almas indígenas, convencendo-as da bondade das suas soluções mágicas para resolver os problemas estruturais do país.
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É uma lapalissada maçadora, mas aqueles que mais ostracizam os extremos têm sido os seus maiores patrocinadores. Precisamente porque, num raciocínio simplista, passam a vida a dar-lhes razão. Há, porém, nesta conquista progressiva de eleitorado descontente por parte de quem torna tudo fácil e encantador, um fator que explica boa parte dessa vitalidade: somos um país que passa demasiado tempo a discutir políticos e quase tempo nenhum a discutir políticas. A excessiva personificação no exercício dos cargos públicos não tem tido, infelizmente, demonstração na eficácia das decisões e muito menos no desenvolvimento económico e social da nação. Portugal é um país cada vez mais pequeno, enredado na agenda de uma classe dirigente incapaz de servir o bem público, que se vai revezando nos maus exemplos, que parece estar sempre a cometer os mesmos erros e que capitula perante as tentações mais primárias. Tendemos a transformar todos os temas em questões pessoais, centradas no ministro A ou no ministro B, coadjuvadas pelo secretário de Estado X ou pelo adjunto Y. Não haverá nunca boas políticas sem bons políticos, mas o campo de tiro intensivo em que se transformou a arena de intervenção pública faz com que haja demasiada gente a falar e cada vez menos gente a ouvir. Ora, se os moderados insistirem no modelo, o fogo de artifício não cessará e o caminho da glória para os justiceiros de pacotilha tenderá a alargar-se. Como acontece com qualquer rebanho confuso, que parte das margens para se agigantar ao centro, numa mancha enorme, apática e indefinida.
*Diretor-adjunto