Até abril passado, houve 174 pré-avisos de greve na Função Pública. Foram mais 11 que os 163 do mesmo período de 2019, o ano com mais greves desde 2013.
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Na semana passada, a Frente Comum avançou com uma greve nacional da Função Pública, em defesa das melhorias das condições salariais e da revogação do sistema de avaliação, excluindo apenas o setor da saúde devido à situação pandémica. Valham-nos os profissionais de saúde. Surpreendentemente, o SEF anuncia uma greve para o próximo mês de junho que hipoteca o aquecimento dos motores da retoma do turismo.
Não pondo em causa, naturalmente, o direito que todos os trabalhadores têm à greve, temos mesmo um país a duas velocidades mais uma vez. Achava que já todos tínhamos percebido que só uma classe trabalhadora unida, nos setores público e privado, pode reverter a crise económica que nos assola. Porém, de um lado da trincheira assistimos aos privados a tentarem sobreviver e recuperar. Do outro lado, a Função Pública - a quem pagamos o salário mesmo estando em casa durante confinamentos - a boicotar as necessidades de um país que tenta recuperar.
A greve nacional da Função Pública parou escolas, serviços públicos e tribunais. E não deixa de ser irónico que, após meses de ensino remoto e de reconhecimento das fragilidades e atrasos que trouxe, as escolas tenham sido pioneiras na adesão à paralisação.
O SEF sabe também da importância das suas funções na recuperação do setor do turismo. O SEF tem sido alvo de polémicas e crises reputacionais. Acho que só eles não perceberam que não é desta forma que recuperam esses danos, uma vez que prejudicam muitos setores de atividade.
Não posso deixar de estar indignado com o comportamento da Função Pública. É preciso ser-se mais ágil e sensato em momentos tão delicados como o que vivemos. Após meses de lay-off, de negócios fechados, de ramos totalmente impedidos de trabalhar, a vontade de parar novamente é inusitada e revoltante. Assim não há apoios ou subsídios que nos salvem. Temos direito à greve mas também temos o dever do bom senso.
Empresário e presidente da Associação Comercial do Porto