Corpo do artigo
Em 2080, soubemos esta semana, o país deverá ver reduzida a sua população para 7,5 milhões de habitantes. O Norte, onde residiam, em 2015, 3,603 milhões de pessoas deverá perder 1,526 milhões, uma redução de 42%, quase metade da sua população.
Estes números, traçados pelo Instituto Nacional de Estatística, deveriam deixar-nos alarmados. Bem sei que a esmagadora maioria de nós já cá não estará para viver num país ainda mais desertificado em largas faixas do território e onde será cada vez mais complicado ter um modelo sustentável de Segurança Social, que permita apoiar uma população cada vez mais envelhecida - em 2018, serão 317 idosos para cada 100 jovens. Mas, tal como os gráficos que o representam, este é um caminho descendente, numa curva onde acabaremos por inevitavelmente ser todos apanhados a caminho de um país inviável.
Por isso, mais do que o alarme que deveriam suscitar, estes números deveriam ser um apelo à ação, que tarda, para a qual não parece haver nem visão, nem coragem. Sim, não é fácil defender o prolongamento da vida ativa para quem teve no horizonte o descanso da reforma aos 65 anos. Sim, é muito complicado defender uma política ativa de captação de novos residentes, quando por todo o Mundo se erguem políticas agressivas contra emigração. E será sempre muito difícil tentar novas políticas de engenharia social, como cortar no número de horas de trabalho, flexibilizar a idade da reforma ou permitir às pessoas suspenderem as suas carreiras para cuidar dos filhos, de forma a termos incentivos à natalidade mais impositivos.
Mas não fazer nada disto, mantendo conceitos que vêm de um mundo que já não existe, é um bilhete de ida rumo a uma suave, mas dramática, decadência. É nestes momentos que esses seres com quem mantemos uma constante relação de amor-ódio, os políticos, deveriam ser determinantes. Cabe-lhes a eles ouvir, refletir, esboçar propostas que nos convençam de um horizonte mais amplo e nos deem a coragem de ter ambição como país.
Eu percebo que a derradeira vez em que nos falaram de um futuro que não estava balizado pelo limite anual do défice, durante o primeiro Governo de José Sócrates, tem hoje péssima imprensa. Mas o impulso, mesmo que por escassez de recursos devesse ser ponderado e calendarizado de outra forma, era positivo. Problemas como o dos recursos energéticos, das alterações climatéricas, das ligações às redes europeias de transportes ou da demografia precisam de quem tenha a coragem de ver longe.
* SUBDIRETOR