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A lamentável recorrência dos incêndios no verão é o retrato de um país centralista, que ignora a coesão territorial.
Um país que persiste em não adotar a regionalização, a justa repartição de recursos, o reforço da autonomia local. Um país que persiste na hiperlitolarização, na discriminação dos territórios do Interior. Um país que assiste ao abandono, à desertificação de grande parte do território, negando a evidência do falhanço do centralismo.
Perdida nos jogos táticos, a ação política governativa trata a regionalização e o aprofundamento da descentralização como assunto tabu. Um tema que parece queimar mais os interesses que guiam a agenda governativa do que todos os incêndios que grassam pela "paisagem" que de Lisboa está cada vez mais distante.
Desistir do território é desistir do nosso futuro coletivo. Impedir a regionalização é sabotar o desenvolvimento sustentável. Não aprofundar a descentralização e a autonomia do Poder Local é retirar voz e força às comunidades.
São bem visíveis os tristes reflexos deste caminho, desta opção política do Governo. Podemos assistir em silêncio? Podemos, ano após ano, ignorar as causas e ficarmos pelo lamentar das consequências? Podemos, nesta nova era de populismo, abandonar a racionalidade e ficar receosos da propaganda destrutiva que alimenta as redes sociais?
Poder, podemos. Mas os municípios, as freguesias, não querem. Não desistiremos de proclamar o caminho certo para o desenvolvimento, para a coesão, para a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, independentemente do local onde vivam.
Não desistiremos de exigir o fim de um país a várias velocidades. Da habitação à saúde, da mobilidade ao ambiente, da educação às políticas sociais, o Poder Local é a grande força motriz do desenvolvimento, da equidade e da justiça social.
Por isso, porque acreditamos em Portugal, porque estamos próximos das pessoas, das instituições e das empresas, porque somos porta-vozes das nossas comunidades, não desistiremos.
Numa Europa de cidades e de regiões não ficaremos "orgulhosamente sós" na proteção ao centralismo. Ambicionamos o melhor para Portugal, queremos crescimento, coesão social e territorial, queremos um país equilibrado e uno. Queremos uma democracia forte, que dê voz às comunidades e lhes permita decidir o seu destino.