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"O país das maravilhas", de V. Pulido Valente, e de 1979, é, sobretudo, um livro sobre a "essência" da esquerda representada pelo PS, o partido "único" que moldou verdadeiramente o Estado pós-"Novo" e pós-revolucionário.
De Soares a António Costa, salvo dois ou três lances "reformistas" do primeiro Guterres e do primeiro Sócrates, a conversa "desta" esquerda dita democrática é sensivelmente a mesma, e passo a citar. "A ausência de uma teoria e de um pensamento político nunca a impediu de se prevalecer das mais baixas emoções e da mais absoluta irracionalidade para legitimar as pequenas (e, por regra, imerecidas) posições que ocupa no Estado e adjacências.
Dela recebi invariavelmente insultos e sermões. Nunca qualquer ténue desejo de compreender e argumentar". Costa agravou todos estes tiques, prepotências e servilismos em sete anos. Primeiro, "enrolando" a outra esquerda, e, depois, como senhor absoluto de um partido eunuco de oligarcas ao serviço de um Governo sem tino, aboborado por um acto impensado do presidente da República. Lembro que, por exemplo, nem ainda um escasso mês passara sobre a posse do primeiro Governo Costa, em 2015, e a Segurança Social, de Norte a Sul, fora toda "remodelada", nas respectivas direcções de topo e intermédias, a favor do devoto militante socialista mais à mão de semear.
Costa nunca possuiu um "escol" próprio dentro do PS, como os antecessores, e especializou-se em triturar amigos. Vindo do "sampaísmo", vampirizou rapidamente o "guterrismo", onde se pôde dar ao luxo de exigir a Justiça no segundo Governo do homem. Combinaria depois com Sócrates a partilha do poder interno, e do Governo, herdando dele praticamente toda a tralha que tem vindo a usar nos seus três executivos. A semana passada, remodelou-o sem quase lhe mexer.
É um homem a quem apenas interessa o poder, e não mudar ou reformar o país. É o "político" típico, de mão cheia e de partido, "formado" anos a fio em pôr o país em "banho-maria". José Miguel Júdice resumiu-o, a ele e a Marcelo, seu cúmplice, na perfeição: "rasteiros politiqueiros", de "baixas emoções e da mais absoluta irracionalidade" que usa para se manter e legitimar.
Carrilho escreveu no seu blogue ter-se descoberto, afinal, em Costa, "um líder sem autoridade, sem equipa e sem visão, num atordoado desatino que lembra cada vez mais o segundo mandato de Guterres", mas sem um Sampaio em Belém. E Manuel João Vieira não se engana quando, há dias, disse ao "Blitz": "Os portugueses ainda não foram suficientemente lobotomizados. Quando forem, acharão que Portugal é incrível". Discordo. Já foram. E acham, coitados, que isto é "o país das maravilhas".
*Jurista
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)