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A descer todos os santos ajudam, mas na subida é cada um por si. Este ditado popular, aqui parafraseado, assenta como uma luva às duas notícias que o JN dá hoje à estampa: um agravamento considerável das prestações do crédito à habitação e um aumento assinalável dos combustíveis, no arranque da próxima semana. A classe média está progressivamente afogada em compromissos financeiros incompatíveis com um aumento real dos salários (descontando já a inflação) que ficou muito longe de chegar sequer aos 5% desde 2019.
Quanto ao crédito à habitação, o universo afetado chega aos dois milhões de portugueses. E um agravamento do preço dos combustíveis atinge a carteira dos proprietários de mais de cinco milhões de veículos a combustão.
A renegociação de créditos tem sofrido uma aceleração, atingindo mesmo em maio um valor de 3,8 mil milhões de euros, o que iguala todas as operações semelhantes nos quatro anos anteriores. Neste ponto, é de louvar o esforço do Governo para mitigar o efeito devastador da subida das Euribor sobre as prestações. A bonificação do crédito à habitação vai ser agora ampliada para as famílias que suportam uma taxa de esforço acima dos 50%.
Quanto ao custo da mobilidade a combustão, apesar de o Fundo Ambiental constituir uma ajuda para descarbonizar os transportes, é impossível ignorar que o automóvel é rei e senhor nas deslocações de quem vive nas áreas de Lisboa e Porto. Um exemplo comparativo: o carro é o meio preferido por 57% dos moradores da capital e por 65% no caso do Porto, segundo a Deco Proteste; em Helsínquia, capital do “país mais feliz do Mundo”, a percentagem é de apenas 21%. Podemos sempre idealizar uma mobilidade ecológica, mas a realidade das famílias faz-se no dia a dia com as escolhas disponíveis. A mobilidade ainda é uma desgraça. A outra calamidade é ditada pelas decisões do Banco Central Europeu.
*Editor-executivo-adjunto