<p>Esta semana começou com uma grande vitória de um português especial. José Mourinho ganhou o direito ao título do melhor treinador de futebol do planeta. Um destaque do mundo do futebol, vilipendiado e exorcizado como maldito por uma parte importante da intelectualidade nacional, mas ainda assim com enorme projecção global. </p>
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Este prémio é bom para Portugal. Nem toda a gente no mundo carrega as frustrações e complexos da maioria dos nossos intelectuais de pacotilha. Mourinho lidera o clube que a FIFA considerou o "melhor" do Século XX; é um nosso compatriota e conseguiu na última década o que mais nenhum treinador conseguiu. Mourinho, por muito que isso custe a essa intelectualidade de pacotilha, é de facto especial.
José Mourinho é amado e elogiado por todos os que têm sido seus discípulos. Construiu do zero uma equipa do F.C. Porto campeã da Europa e do Mundo; foi campeão de Inglaterra e Itália; voltou a ser campeão europeu com o Inter de Milão.
Como adepto, tenho seguido de perto a carreira de José Mourinho. Assisti a quase todos os jogos do Porto da "era Mou"; tive o privilégio de seguir o Chelsea em Stamford Bridge e ainda no passado domingo tive a sorte de poder presenciar o Real Madrid - Villareal no Santiago Bernabéu.
É com orgulho que vejo este português diferente ser aclamado como nunca o fora um treinador de futebol. É com orgulho que o vejo transportado para o papel de estrela planetária, com um estatuto de líder exemplar.
Os adeptos gritam cânticos com o seu nome - privilégio que até agora só era facultado às estrelas, aos jogadores. Os adversários fazem-no alvo preferencial das suas críticas. As câmaras de televisão isolam e preferenciam as suas reacções. Os seus "excessos" merecem horas de mesas redondas. Ninguém lhe é indiferente.
Mas o que faz dele o tal vencedor exemplar? Muita coisa que tem a ver com a sua personalidade e com o seu carácter. Mas com certeza que a tal não é alheia a síntese que por ele é feita entre o que de melhor tem o português normal com o que a maioria de nós não tem e devia ter.
Mourinho é afável, humano e trabalhador, como muitos de nós, mas soma a tudo isso uma perseverança no esforço continuado, um discurso de conquista e confiança e, principalmente, uma "arrogância" descomplexada que mais parece espanhol ou inglês.
É essa postura que semeia a maledicência e a inveja, mas é essa mesma postura que o torna temido e respeitado. Seria excelente que as novas gerações de portugueses assumissem esta postura. Teriam muito melhores condições para serem competitivos em todas as latitudes.
Mas enquanto Mourinho vencia em Zurique, a nossa vida pública caseira seguia a sua tradicional vil tristeza. O nosso Primeiro-Ministro vangloriava-se pela grande vitória decorrente de terem aparecido compradores para o último leilão da nossa dívida, e a aliança que apoia Alegre continuou a alimentar a ilusão de que é capaz de convencer a opinião pública de que Cavaco Silva não é um cidadão exemplar.
José Sócrates não é um Mourinho e, por mais que clame com ar austero as suas mensagens, já são poucos o que o ouvem. Para se ser arrogante e bem sucedido é necessário ter razão na argumentação. Sócrates raramente a tem tido. A dívida pública vendida na quinta-feira teve compradores? Mal fora que não tivesse. Com juros de 6,7%, com o aval informal do FMI e da UE nunca faltarão especuladores interessados.
O drama é o que resulta desses juros já nos custarem mais quase 900 milhões de euros. É só o que foi retirado ao vencimento dos funcionários públicos em todo o ano 2011. E ainda vamos em Janeiro.
Finalmente as eleições presidenciais. O PS está finalmente em pleno na campanha de Alegre. Vá-se lá perceber porquê? A única explicação é a que decorre de constatar que todo o poder em queda é irracional. Aparentemente, era mais sensato comportar-se como o fez o PSD aquando da reeleição de Soares.
Queixa-se o partido do governo de que Cavaco Silva radicalizou a sua campanha num discurso anti-governamental! Descaramento patético, quando vindo de um partido que deu carta branca para que um dos porta-vozes do Primeiro-Ministro, Edite Estrela, escrevesse cartas públicas de arruaça anti-Cavaco; que permite que ministros políticos, como Santos Silva, Alberto Martins e Jorge Lacão, sejam os porta-vozes de ataques mal-educados!
O que espera o Governo das futuras reuniões, inultrapassáveis em tempo de crise, entre o novo Presidente reeleito e os titulares da Defesa, Justiça e Assuntos Parlamentares? O Governo, sem tino, abriu imprudentemente as hostilidades. Agora prepare-se para pagar a factura. Começando por uma inevitável e clara derrota eleitoral já no próximo Domingo.