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Os estados, a academia, os institutos de saúde pública e os médicos terem de vir a público esclarecer a sociedade de que não há qualquer prova científica de uma correlação entre o paracetamol e a perturbação do espetro do autismo é mais uma prova de que vivemos diariamente a tentar fechar os alçapões que o presidente dos EUA vai abrindo. Fazer afirmações de tamanha importância de forma tão leviana é como conduzir em contramão. Donald Trump associou o aumento do autismo ao consumo de paracetamol durante a gravidez, mais, aconselhou as gestantes a evitar o analgésico. As afirmações irresponsáveis foram proferidas ao lado do secretário da Saúde Robert F. Kennedy Jr., que tem propagado dados não comprovados pela ciência sobre autismo e vacinas. Os especialistas negaram a existência de qualquer evidência nesse sentido. Agora, foi a vez de atacar o paracetamol, dos poucos medicamentos que se deixa as grávidas tomarem em Portugal, por haver vários estudos que o apontam como inócuo. As ondas de tamanha enormidade fizeram soar os alarmes no Infarmed. A Autoridade do Medicamento tranquilizou as mulheres portuguesas, disse-lhes que não há provas de qualquer risco para os bebés, não há risco de malformações, nem há risco para elas próprias. Os estudos dos últimos anos, que abrangeram milhões de crianças - não falamos de estudos simples, mas de grandes amostras - provaram que o consumo do fármaco é seguro, reage a Organização Mundial da Saúde, que pede às mulheres para seguirem conselhos médicos. Nesta lógica de curandice, nenhuma de nós fazia bolos quando está menstruada, pelo menos era o que aconselhavam as nossas avós, alegando que as claras não subiam. Um presidente não pode falar como um curandeiro, pondo em causa os sistemas de saúde públicos.