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Cumprem-se amanhã 100 dias sobre a tomada de posse do presidente da República. Olhando para a agenda e para a visibilidade, pode até parecer que foi há muito tempo. A verdade é que passaram pouco mais de três meses desde que Marcelo Rebelo de Sousa assumiu funções. Tempo suficiente para muita coisa ter mudado.
Temos um presidente presente e próximo. Um presidente que as pessoas percebem bem, desde logo porque tem um discurso claro e objetivo, desconstruindo o "politiquês". Um presidente que honra o país e eleva o seu estatuto internacional. Para além de Mário Soares, não encontramos na história moderna um outro chefe de Estado que estivesse tão genuinamente confortável e tão perfeitamente ao nível de um presidente estrangeiro (como foi visível, no 10 de junho, em França).
O presidente da República tem vindo a fazer mais pela reabilitação da imagem dos políticos do que mil inaugurações. Ao instituir um novo padrão de referência - em matéria de abertura e de substância -, coloca toda a classe política perante o ónus de não baixar a fasquia. Com o patamar de exigência fixado por Marcelo Rebelo de Sousa, não poderá qualquer outro representante político ser menos disponível, menos presente e menos transparente. E aproximar os eleitores dos eleitos passa muito por isto.
O presidente apoia o Governo quando entende que deve apoiar e critica quando o assunto merece reservas - exemplos da lei das 35 horas, promulgada sob reserva de não acarretar o aumento da despesa, e do diploma que regula as "barrigas de aluguer", rejeitado por uma questão de consciência, sem que daí resultasse tensão. Os promotores desta última proposta acataram a decisão sem os dramas que surgiriam caso fosse outro o inquilino de Belém...
O presidente da República empenha-se diariamente em continuar a mudar a perceção que os portugueses têm dos políticos. E se por vezes é mais lucrativo transpor as fronteiras para dizer o que se pensa sobre a realidade interna, este chefe de Estado estará a baralhar muitos pensamentos e pensadores políticos. O 10 de junho mereceu celebrações inéditas em Paris, mas Lisboa não ficou secundarizada, pelo contrário. Mais do que aproveitar esse tempo a que se convencionou chamar de "estado de graça", Marcelo passou por cima de putativas críticas e esteve no Terreiro do Paço, ignorando o que pudesse dizer-se acerca de aquele ter sido noutros tempos o local eleito para outras celebrações. Com a mesma dignidade e alegria com que esteve num arraial com emigrantes, numa cerimónia com François Hollande ou num jantar com a seleção nacional. É um presidente de verdade. Sempre.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO