Absolutamente natural. Com o quadro político que está indiciado é absolutamente natural que o PSD pressinta finalmente aproximar-se o almejado sonho: um presidente, um governo, uma maioria. Falta porém o vértice supremo da consolidação desse desejado tríptico: um S. C. Ou seja: um Sá Carneiro. A história presente faz-se dos vivos e com os vivos. Mas o ditame popular que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis nem sempre está correcto. Sá Carneiro que, ainda hoje, não se sabe se morreu por acidente ou por atentado, era um homem de grande estatura política e possuía uma contagiante liderança carismática. Impunha-se dentro e fora do partido. Passos Coelho sabe que não é um Sá Carneiro. E manifesta saber que só governará o país se subsistir num partido que é sempre o primeiro a dar cabo dos seus líderes. Os tempos não estão para se exigir homens providenciais, nas circunstâncias como as actuais, tantas vezes transformados em perigosos para a democracia. Aliás, neste momento, a crise da crise agudiza-se pela inexistência de líderes incontestáveis. No país e na Europa.
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Com o posicionamento centralista do PS, por circunstancialismos da evolução dos tempos e pela dita invocação de um realismo pragmático, a consignada maioria parlamentar de Esquerda está desfeiteada e o PS, hoje, divide o leque partidário em dois blocos distintos: PSD e CDS; PCP e BE. A coligação PSD-CDS, se faltar ao PSD a necessária maioria, é previsível. Já a inesperada "cimeira" de amanhã entre PCP e BE não é por si só anunciadora de uma outra maioria. De qualquer modo, enuncia, à Esquerda, a possibilidade de um entendimento a despertar uma nova atenção a esta ala. Abre uma bifurcação que pode trazer ao espectro partidário outras alternativas até agora pouco consideradas. Tudo pode depender de um certo descentrar do PS, consoante os resultados eleitorais e as alterações internas que a repercussão dos votos possa acarretar. Este pode ser um outro efeito colateral do chumbo do PEC IV que não estava nas cogitações dos mais avisados centristas e muito menos nos desejos dos senhores da Europa. Aqueles que querem afirmar as lideranças do seu partido e determinar a liderança dos partidos adversários podem estar a provocar, inadvertidamente, esse efeito. Para não aumentar a crise política seria avisado que cada partido tratasse da sua liderança e não interferisse na dos outros. Direito e resolução que não lhes assistem.