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Terminadas as vindimas, ou as ceifas, há uma expressão popular, rebusco, que significa a procura de restos que tenham escapado à vindima, à ceifa ou às colheitas, em geral. Representa, desde tempos imemoriais, uma atividade, por vezes com caráter lúdico, das caminhadas pelo meio rural.
Mas o que temos este ano na maioria das regiões vitivinícolas é uma situação completamente diferente, na qual a percentagem de uvas por colher no final da vindima pode atingir valores percentuais de dois dígitos, como é o caso do Douro. A questão que se coloca é como é que chegamos aqui, quando tudo indicava que tal poderia acontecer e pouco se fez para o impedir. Muito provavelmente porque seguindo um hábito com raízes muito fortes, todos fomos acreditando um pouco que o problema se iria resolvendo por si mesmo. Mas a queda que se tem vindo a verificar ao longo dos últimos anos no consumo de vinhos, em especial no domínio dos fortificados, como é o caso do Porto, acrescida da pressão criada pela entrada de vinhos oriundos de países externos, levou a esta situação limite, sobretudo na produção que vai para além do benefício, o que nos confronta com a inevitabilidade da tomada de medidas estruturais, que têm sempre danos colaterais nas componentes mais frágeis da fileira, leia-se pequenos e médios viticultores. E não existem propriamente soluções simples, de efeito rápido e duradouro, como por vezes pode transparecer das posições legítimas de alguns atores do território, que assistem com angústia ao evoluir da situação. Sendo justo reconhecer o empenho do atual ministro da Agricultura, todos sentimos que os próximos tempos serão difíceis e desafiantes.
Mas o Douro tem futuro, sendo nele que temos que concentrar as nossas forças. De momento, vamos olhar para este generoso rebusco, como o sinal que o binómio homem-natureza nos coloca sobre o futuro da mais fantástica região do Mundo.