A natureza é compensadora! Os seus equilíbrios dinâmicos, a interação e a evolução das espécies são fenómenos únicos do espaço planetário em que o homem é a figura central.
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As espécies vivas, de origem vegetal ou animal, sofreram adaptações genéticas, anatómicas e fisiológicas profundas ao longo de milhões de anos, fenómenos desafiantes para estudar e compreender. Conheço bem o fascínio da ciência animal.
Para uma espécie omnívora, na qual se inclui o homem, o seu estômago simples torna impossível produzir e sintetizar proteína a partir de um simples fardo de palha. Pelo contrário, um bovino desenvolveu essa capacidade natural a partir da gigantesca massa da flora microbiana existente no rumem. Isso mesmo, a partir de alimentos de base muito pobres, os ruminantes possuem uma capacidade anatómica e fisiológica própria que lhe permite produzir os nutrientes essenciais à sua manutenção, crescimento e produção.
É óbvio que com os elevados níveis de fibra, indigestível para a maioria dos vertebrados, a eficiência da sua transformação é comparativamente baixa. Em especial se comparada com espécies mais eficientes como os peixes, a que se seguem as aves e os suínos.
Com uma diferença fundamental, em que por exemplo quando falamos de uma espécie carnívora como o peixe, com uma eficiência muitíssimo elevada, termos um competidor quase direto por matérias-primas que, em muitos casos, podiam ser utilizadas para consumo humano.
A investigação no domínio da nutrição e alimentação, genética e fisiologia digestiva continua a ser fundamental, até porque o consumo de proteína vai ainda aumentar em valores absolutos, pela razão simples de que há partes substanciais da população mundial sem acesso à ingestão de mínimos essenciais para uma alimentação digna. O que também poderá ser compensado, diga-se, por um desejável decréscimo no excesso de ingestão que se verifica nas sociedades mais desenvolvidas.
Fica este pequeno contributo para uma reflexão serena sobre o desafio a que todos somos chamados na manutenção deste milagre que é o equilíbrio da natureza.
*Prof. catedrático, vice-reitor da UTAD