Em junho, quando o teletrabalho já era um dado adquirido, um questionário sobre Teletrabalho e Saúde Ocupacional, do Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública, retratava parte de um país sentado à secretária: equipamentos informáticos insuficientes, mobiliários desajustados, inexistência de formação e de estratégias para adequar comportamentos.
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Quanto aos apoios das empresas, os resultados do inquérito revelavam que apenas 33% dos inquiridos reconheciam que lhes tinham sido disponibilizadas "todas as condições e recursos para poderem trabalhar a partir de casa, de forma eficaz". Passados vários meses, a situação é a mesma.
Não deixa, por isso, de ser relevante que, de acordo com o estudo de uma consultora francesa "O futuro do trabalho: do remoto ao híbrido", as empresas tenham alcançado um ganho médio de produtividade de 63% no terceiro trimestre de 2020. Lendo a análise com atenção, percebe-se que o crescimento da rentabilidade é explicado não por novas metodologias de trabalho, mas sim pela diminuição dos tempos de deslocação e flexibilidade de horários.
O teletrabalho não veio para ficar. Já ficou. Assim, é preciso acelerar mudanças. Não só legislativas, até porque a atual legislação mantém os direitos que os trabalhadores já tinham, embora ainda não seja clara relativamente às despesas suportadas pelo empregador aos funcionários em teletrabalho. A mudança tem também de ser de paradigma, de forma a defender os trabalhadores do desgaste adicional que este regime de trabalho impõe, conforme, aliás, a própria consultora francesa alerta.
Nunca estivemos tão próximos de conseguir conciliar melhor trabalho e família. No entanto, para conquistar maior qualidade de vida, é preciso uma nova relação de confiança entre patrões e trabalhadores. Não há nenhuma relação que resista à falta de confiança. No teletrabalho, será mesmo um dos pontos-chave para o universo pós-covid.
Diretor-adjunto