Por estes dias, a campanha eleitoral está em marcha, com comícios, arruadas e jantaradas. Os líderes políticos, cada vez mais afónicos, e rodeados de um séquito de aspirantes e de velhas raposas dos aparelhos que sonham em relançar as suas carreiras, transformam o país real, tantas vezes ignorado durante a legislatura, num palco para as suas aparições nos "directos" televisivos.
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Para que tudo corra bem, é preciso garantir a indispensável moldura humana, mais não seja porque os jornalistas que acompanham as várias caravanas ainda avaliam a presença popular nesses eventos como se estivesse em relação directa com as intenções de voto do eleitorado.
A verdade é que neste país miserável, a presença dos figurantes que compõem o cenário é comprada a preço de saldo, a troco de um jantar de borla ou, no caso conhecido do PS, de uma entrada gratuita num aquário. Repete-se, assim, o ambiente da Volta a Portugal, em que muitos populares nem sequer conhecem os ciclistas, e apenas comparecem para pedir uma T-shirt, ou cravar um barrete. Neste caso, nem sequer se apercebem que o barrete já lhes foi servido, e a custo muito elevado, pelos seus governantes.
Na essência, aquilo que ainda falta ouvir dos políticos tem um interesse relativo. O que se joga não é a credibilidade das propostas, que já são mais do que conhecidas, ainda que sejam muito pouco compreendidas. Cada partido aposta, apenas, em afirmar a personalidade do líder, e em desacreditar os opositores. Entretanto, vão sendo publicadas, diariamente, sondagens dissonantes. Sendo este um dos poucos negócios que a ASAE ainda não fiscaliza e um dos muitos que ninguém regula, o método produtivo é, em muitos casos, low cost e falível, suportado em inquéritos telefónicos para a rede fixa e que, por razões económicas, e para que os entrevistadores não tenham direito a horas extraordinárias, se realizam entre as 9 e as 17. E, cada um dos partidos valoriza ou desvaloriza esse barómetro em função das suas conveniências. Na realidade, ninguém sabe ao certo como será a abstenção, ou qual será o sentido de voto de todos aqueles que se recusam a responder aos questionários. Pior do que isso, ninguém sabe até que ponto é que esses estudos alteram o sentido de voto desses indecisos.
Ainda assim, há momentos de mau gosto e que merecem reparo, como foi o caso do insensato discurso de Heloísa Apolónia, em que a estridente dirigente do partido "Os Verdes", à falta de melhor assunto, e para impressionar os comunistas que lhe garantem uma conveniente boleia, comparou o voto nos partidos "da direita", com a tragédia de Fukushima. E, entre os partidos pequenos, que se uniram para reclamar, com razão, que não têm visibilidade televisiva o que não lhes permite sair da "cepa torta", o candidato Coelho também protagonizou cenas pouco edificantes.
O carnaval triste continuará na rua, durante mais alguns dias. Entretanto, à margem da campanha e dos partidos, surgiu um outro folclore. Aparecem estranhas petições "feicebuquianas", porque a tolice e a abstenção são direitos inalienáveis do povo, enquanto, no Rossio, há um ajuntamento de algumas dezenas de revolucionários que posam para as câmaras da TV sem se aperceberem que só existem porque, à falta de novidade, ajudam a compor os noticiários.
Depois, e qualquer que seja o resultado das eleições, voltaremos à realidade, ditada pelas circunstâncias da crise. Quem não votou continuará a perorar no fórum da TSF, a reclamar de tudo e de todos. O país está assim.