A crise do sistema político chegou a Portugal. A abstenção continua a aumentar e os partidos tradicionais continuam a perder votos. Ao mesmo tempo, novos partidos, por vezes com agendas radicais ou monotemáticas, chegam ao Parlamento.
Corpo do artigo
Para responder a isto é necessária uma agenda política focada no futuro e não no passado. Uma agenda capaz de mobilizar os excluídos do sistema, em particular as gerações mais jovens. Sendo que responder às aspirações destas gerações pode ser o caminho, não apenas para alargar a base de participação política, mas também construir a agenda de futuro de que o país precisa.
Paradoxalmente, sendo o PSD o partido mais em crise dos dois grandes partidos tradicionais é também aquele que está mais bem posicionado para responder aos desafios desta crise e fazer dela uma oportunidade. Há uma razão para, entre as gerações mais jovens, o PSD ser o partido mais votado. Enquanto o PS se foca na defesa do que foi conquistado, o PSD sempre colocou a ênfase no que o país ainda tem de conquistar. A atual governação socialista prova isto: esgota-se na reposição do passado. Uma agenda que consolida dois países. O país dos direitos e rendas adquiridas por alguns versus o país da insegurança económica e ausência de oportunidades de todos os outros. Um país com diferentes regimes de emprego, habitação ou garantia de pensões consoante as gerações. Um país onde o amiguismo ou a antiguidade prevalecem sobre o mérito.
A nossa ambição não pode ser proteger o poucochinho que conseguimos no passado, tem de ser oferecer mais a muitos no futuro. Para isso é crucial uma agenda focada nos temas do futuro. Não se trata de uma agenda para as novas gerações, mas de uma agenda para o país que simultaneamente reconhece a importância dos temas dessas gerações. Desde logo, as alterações climáticas e a sociedade digital. São esses os temas que vão determinar boa parte do nosso futuro. Incluindo o combate à insegurança económica e social crescentes neste novo mundo e a promoção da justiça intergeracional. Mas esta agenda não se faz apenas de temas, faz-se também de um combate pela alteração da nossa cultura política e instituições. Começando na regulação da integridade, prevenção de conflitos de interesse e transparência na política até ao reforço da independência, capacitação e autoridade dos árbitros e garantes do funcionamento isento, imparcial, e assente no mérito, de Estado e mercado: poder judicial, reguladores, média e Administração Pública. A fraqueza das nossas instituições é o que está na origem do falhanço das nossas políticas públicas. Sem cuidarmos do reforço das nossas instituições e do fim da sua captura por partidos e interesses privados qualquer agenda temática sobre o futuro será um simples novo instrumento de captura desse futuro por esses mesmos interesses.
*Professor universitário