A Boavista é uma avenida. A maior que o Porto tem. Mas também é nome de rua. Ambas, rua e avenida, percorrem mais de meia cidade. Têm um traçado decidido e rectilíneo. Fazem como que o seu "equador".
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São, também por isso, elementos fundamentais na organização espacial da cidade. Sobretudo a avenida. Mas não só. São, também, referência da cidade, representam uma ideia de cidade e são, para além do mais, o suporte urbano de factos que são novas "marcas" que fazem do Porto uma cidade no limiar das rotas do Mundo. Urbanisticamente, a Boavista é um generoso traçado entre duas "rotundas": a da Boavista propriamente dita (Praça Mouzinho de Albuquerque) e a do Castelo do Queijo (Praça Gonçalves Zarco). Os "monumentos" que ambas têm no meio como, alias, acontece noutros locais da cidade, são, no entanto, outra coisa.
A estes dois extremos, correspondem, hoje, igualmente, pontos para onde convergem com frequência e assinalável intensidade, milhares de habitantes da região do Porto e de muitos e cada vez mais visitantes de dentro e de fora. Referimo-nos, naturalmente, ao Parque da Cidade e à Casa da Música. Esta concluiu, recentemente, cinco anos de vida e de actividade, atingindo o bonito número de dois milhões de visitantes. Trata-se, portanto, duma instituição de que a cidade e a região já não podem prescindir, tanto pela sua arquitectura como pela sua actividade. No outro extremo da avenida e paredes meias com a Rotunda do Castelo do Queijo, estende-se uma generosíssima área de lazer, constituída por um parque urbano de apreciáveis dimensões e por uma orla marítima de expressão idêntica e de igual qualidade. É certo que o conjunto ainda procura a sua forma definitiva, ou mesmo a sua estabilidade, mas já é um facto que serve milhares de habitantes da área metropolitana. Claro que por se tratar de recintos abertos não há registos do número de utentes, mas a observação directa não deixa margem para dúvidas de que se trata de um dos lugares mais procurados da região.
Contudo, e como se estas duas valências não fossem já suficientes para enriquecer a cidade, acontece que, sensivelmente a meio da avenida, um outro lugar e uma outra instituição conquistou já outros tantos milhões de frequentadores de todas as condições e de todas as idades. Trata-se, como é bom de ver, da Fundação de Serralves que, no passado fim-de-semana, abriu mais uma vez as portas a mais de 100 mil visitantes em cerca de 40 horas de actividades contínuas deram corpo ao programa Serralves em Festa.
Digamos que não haverá muitas cidades com avenidas assim! Cinco quilómetros de sucesso não se encontram por aí com facilidade e, em muitas cidades, nem seria preciso tanto para que muitas mais vontades se juntassem às que já hoje fazem da cidade uma cidade em vias de se tornar uma cidade de referência e que são a Casa da Música e a Fundação de Serralves. Qual é a entidade que falta? A Autarquia, a quem cabe gerir, dinamizar e enriquecer o inestimável próprio património que é o Parque da Cidade e o passeio marítimo que o prolonga. Os números - de visitantes, de frequentadores regulares e de utentes circunstanciais - exigem que todos tomem consciência das potencialidades que podem estar a ser desperdiçadas se nada de comum e mais amplo for acrescentado ao que já é uma realidade. Mas tudo leva a crer que, agora e por hora, é à Câmara Municipal que compete dar o passo em frente para que o Porto se possa orgulhar de vir a ter "uma avenida em festa". Suponho que tanto Serralves como a Casa (da Música) estão prontas para dar o passo em frente. O próximo ano está aí à porta e a vida e o mundo não param. Podem é passar por nós sem disso darmos conta! O que seria um crime!