No domingo, iremos votar em consequência de um chumbo do Orçamento do Estado. Sendo previsível que nenhum partido conquistará uma maioria absoluta, é necessário haver um governo de coligação ou acordos parlamentares.
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Mas disso as principais forças partidárias não quiseram falar.
Não foi por falta de insistência dos jornalistas que continua por responder a principal pergunta destas eleições: que escolhas fará o partido que ganhar as eleições com uma maioria relativa? Apenas sabemos que o Chega provavelmente nunca integrará uma solução governativa, mas a Direita decerto não desperdiçará a apoio parlamentar do partido de André Ventura. À Esquerda, Costa afastou-se inicialmente daqueles que fizeram cair o seu governo, mas, com as sondagens a darem sinais de um certo enfraquecimento do PS, logo ajustou o discurso, mostrando mais benevolência em relação aos primos desavindos. No entanto, em política o que parece hoje poderá amanhã não reunir condições para se concretizar ou... o inverso.
Neste contexto, estamos perante eleições completamente imprevisíveis e a surpresa poderá ser acentuada por uma abstenção difícil de antecipar dada a colossal escalada de infeções por covid. É verdade que se encontrou (à pressa) uma forma de acolher quem está em isolamento, mas isso não garante que essa franja da população adira ou que essa opção não afaste quem tenha medo de contágios.
Nesta reta final, os partidos vão investir nos círculos mais importantes e preparar mensagens que sobrevivam para lá de um anacrónico dia de reflexão que se cumprirá amanhã. Estranho tal dever não ter sido imposto a quem votou por antecipação, mas é de paradoxos que se faz a vida política.
Enfrentando uma pandemia que acelerou bastante no número de infeções, esta campanha eleitoral foi pouco inovadora na forma e nada ambiciosa no conteúdo. Privilegiou-se o ataque direto aos adversários e excluiu-se do debate um conjunto de temas importantes para o futuro do país. Por exemplo, a educação (tantos alunos em confinamento e longe das aprendizagens mínimas), as alterações climáticas e energia (tantas mudanças que as metas desenhadas impõem...) ou o Plano de Recuperação e Resiliência (tanto dinheiro a chegar, sem conhecermos realmente o destino...).
Mais do que discursos de hoje, importa seguir a noite eleitoral de domingo. Muitos órgãos de Comunicação Social (JN incluído) terão emissões em direto. Oiçamos com atenção os líderes partidários, porque é a partir daí que o jogo de xadrez vai começar a rolar num complexo tabuleiro.
*Prof. associada com agregação da UMinho

