O sociólogo francês Sébastien Rouquette diz-nos, num dos seus livros dedicados à televisão, as razões pelas quais os jornalistas privilegiam as elites do poder e atiram para uma colossal espiral do silêncio atores periféricos da vida social: porque não conseguem ter uma conversa mais longa com essa gente. Falta-lhes assunto. Lembro-me sempre disto no início de cada campanha eleitoral, porque grande parte dos políticos também experimenta a mesma dificuldade.
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Os agricultores não estão muito presentes na informação, principalmente nos "plateaux" televisivos. E Rouquette explica isso assim: porque os jornalistas não sabem falar com eles. Mesmo que tenham raízes rurais, os profissionais dos média formam-se nas cidades onde também encontram depois os seus empregos. A realidade rural está muito distante da sua vida de todos os dias. E isso nota-se, quando são obrigados a confrontarem-se no terreno com o país real. Assim é também na campanha eleitoral.
Os políticos que atravessam Portugal não têm disponibilidade para conversar com ninguém. Fazem arruadas, mas é como se ali não estivessem, porque à sua volta há sempre uma parafernália de câmaras de TV, jornalistas e elementos das jotas que abanam freneticamente coloridas bandeiras. Visitam mercados, mas passam pelas bancas sem terem nada de verdadeiramente pertinente para dizer a quem está ali a vender peixe, fruta ou legumes.
A nível distrital, as listas dos diferentes partidos vão procurando colmatar essas falhas, visitando mais demoradamente o chamado país real, mas, por norma, esses deputados não têm grande poder de influência. Durante uma legislatura, mal damos pela sua presença.
Nestes dias, a campanha que está na estrada não procura os portugueses. Está, sobretudo, de olho nos jornalistas. São eles que mais interessam aos políticos por terem um poder multiplicador que nenhuma volta ao país alcança. Nesta campanha, acrescentar-se-á o cuidado com as redes sociais, mas, por aquilo que se tem visto, os partidos, com exceção do PAN e do Bloco de Esquerda, não investiram muito em estratégias apuradas para o universo digital. Fazem mal, porque há aí milhares de pessoas para influenciar.
Sem resultados totalmente definidos, esta campanha eleitoral terá certamente a sua importância. Que não será medida pelos quilómetros percorridos, mas pela mensagem que cada partido souber veicular através dos média informativos. É aí que cada um ganhará votos.
* Professora associada com agregação da Universidade do Minho