Retiradas as estridências, os eventuais excessos num formato ditado pela grande quantidade de candidatos ou os momentos em que o folclore se sobrepôs à substância, os debates eleitorais deram ao período de pré-campanha uma dinâmica importante e uma oportunidade de esclarecimento.
Corpo do artigo
Ficaram bem patentes diferenças entre partidos por vezes tidos como demasiado próximos, foram apresentadas ideias inovadoras, vimos expostas propostas inconcretizáveis ou irrealistas.
No arranque oficial da campanha, é a incerteza que continua, ainda assim, a dominar. Não a incerteza sobre cenários de governabilidade, que essa preocupa mais os dirigentes partidários do que o país, mas as dúvidas sobre o que vão dizer os eleitores no próximo dia 30. O voto não é dos partidos, nem dos analistas que se desdobram em mil e uma leituras de uma vontade que, na verdade, ninguém conhece.
Num cenário em que todos os indicadores apontam muitas indecisões, a campanha será decisiva para a definição do voto flutuante. Tendemos a desvalorizar uma forma gasta de fazer campanha, inalterada e cinzenta, mas quem sabe se a pandemia e as suas limitações ajudarão a recentrar mensagens e a focar a comunicação. Não se tem visto grande capacidade de inovação dos partidos, mas o cansaço com arruadas e brindes ocos e a exigência dos jovens eleitores tornará inevitável a mudança.
Por muito que interesse a António Costa e a Rui Rio bipolarizar a disputa, será no desempenho dos restantes partidos que está a diferença. A diferença na captação de jovens que já não se reveem na velha dicotomia entre esquerda e direita, a diferença na diversificação de mensagens que tenderá a tornar cada vez mais plural o Parlamento, a diferença no desafio ao imobilismo de partidos cristalizados no apelo ao voto útil. Não há voto inútil, porque todos os votos contam. E negociar, conseguir entendimentos, olhar acima dos interesses partidários, vai importar cada vez mais. O problema não está no risco de instabilidade. Está numa visão pequenina de quem teme cedências ou compromissos.
*Diretora