Disse, a certa altura, o senhor presidente da República, que esta seria uma campanha longa. Deduzi que viesse a ser viva, intensa e rica em argumentação.
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A um mês das eleições, não dei quase conta de que tivesse começado - talvez seja tão longa, que o início se tenha perdido nas brumas - e o pouco pelo que dei é surpreendentemente banal.
Não a banalidade dos medíocres, mas a banalidade premeditada de quem não ousa por teimosia, por opção calculista ou apenas por preguiça.
Rui Rio confunde a campanha, e até o partido, consigo próprio e, agarrando-se à sua própria visão de cada problema, ora se deixa colar ao PS, ora lhe atira umas pedradas grosseiras com manifesta falta de pontaria.
Jerónimo de Sousa e Catarina Martins ensaiam umas marradinhas leves a ver o que a faena de António Costa lhes reserva.
Do CDS de Assunção Cristãs não sobrou nem o "TV Rural" que Paulo Portas tão bem ressuscitava.
E António Costa, sem a certeza do que mais lhe convirá, logo verá o que faz com a maioria absoluta ou com a "geringonça" que se segue. Talvez inove e geringonce mesmo com maioria absoluta.
Da pequena aldeia de Basto onde me encontro, parece que estou a ver aqueles intermináveis frente a frente entre Karpov e Kasparov, com a diferença de, neste xadrez, estar António Costa de um lado e os outros todos do outro.
A ajudar a este impasse pantanoso, quem me dera outro deputado do queijo para animar as hostes, os meios de comunicação social seguem a cartilha do mais fácil.
Só assim se compreende que anteontem (terça-feira, 3), em vez de se comentar com cuidado a entrevista dada pelo líder da oposição, que representa uma grande parte do eleitorado, se tenha optado por transmitir, à mesma hora, o debate (pobre) de Assunção Cristas e Catarina Martins.
Resta-me voltar, neste setembro soalheiro, à outra "campanha", a "alegre", onde Eça dizia dos partidos então em contenda: são todos centralizadores, todos têm o mesmo afeto à ordem, todos querem o progresso, e citam a Bélgica, e todos estimam a liberdade!
*Analista financeira