A curta estadia de Marcelo Rebelo de Sousa no Hospital de São João, no Porto, colocou o foco na "excelência" do SNS, como referiu o presidente da República ao ter alta. Mas, apesar do extraordinário acolhimento que o chefe de Estado agradece e destaca, há uma série de problemas associados a este prodígio da democracia. Um deles revelou-se no último fim de semana, quando ficaram por preencher 20% das vagas no curso de internato, para a especialidade. A Ordem dos Médicos diz que o vazio expressa a crise que afeta áreas essenciais, destacando os exemplos da medicina geral e familiar, medicina interna e medicina intensiva. A ausência de candidatos é mais sentida nos médicos de família, área onde 229 vagas ficaram por preencher, um terço dos lugares disponíveis para um dos braços armados da saúde em Portugal, os cuidados primários. O problema destes números é que sem médicos de família em zonas territorialmente mais vulneráveis, os utentes periféricos ficam ainda mais longe da assistência primária e essencial. Ao mês de outubro, mais de um milhão e meio de utentes não tinham médico de família. O bastonário dos médicos alega que os jovens médicos estão a dar um "cartão vermelho" ao SNS. Apesar de a analogia do futebol ajudar a passar uma mensagem clara, o jogo da saúde há muito que está para lá das quatro linhas, e do tempo regulamentar, tendo-se tornado um campeonato cujas jornadas são praticamente impossíveis de acompanhar. Uma das dificuldades é compreender porque não conseguem médicos e ministério chegar a um entendimento sobre carreiras, numa altura em que se vive uma crise de saúde pública. Exemplos dessa crise são o aumento de partos em ambulâncias ou os tempos de espera para cirurgias oncológicas. Como se ouvia num dos apanhados mais famosos, "a casa é boa, o problema é a humidade".
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