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Cidade de mar e rio, encostada à serra, Viana do Castelo tem por centro histórico o que foi uma "vila nova" criada por D. Afonso III no século XIII. Estendida para Este e Oeste pelas estradas de ligação a Caminha e Ponte do Lima, com travessia por barca à outra margem (apenas substituída por ponte em 1820), a cidade cresceu sobretudo à custa do negócio que o porto propiciava e da ligação ao rural. A riqueza do comércio explica a monumentalização do século XVI, bem visível na Praça da República (antigo Largo dos Fornos) e no grande número de elementos de manuelino civil, talvez o maior conjunto urbano a Norte de Lisboa.
Todavia, Viana não vive do passado, nem só de turismo, apesar dos muitos que a procuram ou param no caminho da costa para Santiago. Porque é marcada por visão estratégica, planeamento, gestão e inovação. Não por acaso, aqui se fez um dos primeiros mapas rigorosos do país, por Augusto Teles Ferreira (1868/9); deu-se orientações para favorecer o branco e o granito e para evitar azulejos nas fachadas (1926 e 1938); há arquitetura moderna de qualidade e sucederam-se planos de prestigiados urbanistas. Nessa senda, sublinho três instrumentos de planeamento da transição do século XX para XXI: o plano estratégico da cidade, o projeto de urbanismo comercial, ambos coordenados por Teresa Sá Marques, e o plano da marginal, de Fernando Távora.
Em parte como consequência disso, já neste século a cidade ganhou junto ao rio novos equipamentos de grandes arquitetos (entre os quais destaco a biblioteca de Siza Vieira) e mais espaço para as pessoas, enterrando os automóveis em sete parques de estacionamento. Aposta no mar e nas energias limpas e apoia o comércio histórico.
Portugal precisa de cidades assim.
* Geógrafo e Professor na Universidade do Porto