Corpo do artigo
A rutura do Partido Socialista com a candidatura de Rui Moreira trouxe à evidência as dificuldades de entendimento dos partidos face aos movimentos de cidadania. Quando em causa estão poder e lugares, os partidos revelam o pior do seu centralismo e da sua voracidade. Os aparelhos asseguram que nada possa correr bem.
Em 2013, fui diretor de campanha do movimento independente "O Meu Partido é o Porto" e da candidatura de Rui Moreira à presidência da Câmara. Foi uma campanha fantástica, com uma mobilização extraordinária e um resultado que veio provar ser possível fazer política e ganhar eleições fora do sistema partidário. Depois da vitória nas eleições e em nome do presidente Rui Moreira, fui um dos negociadores do acordo que estabelecemos com o Partido Socialista.
O objetivo passava por garantir estabilidade e coesão na governação da Câmara, dando condições à equipa de Rui Moreira para cumprir o manifesto que apresentou ao eleitorado. Duas coisas aconteceram nestes quase quatro anos: Rui Moreira cumpriu integralmente os compromissos que assumiu com a cidade - projetando-a para o maior ciclo de valorização e mudança das últimas décadas -, e Manuel Pizarro foi um parceiro de governo correto e leal.
Então o que correu mal? Se a cidade ganhou uma dinâmica social e económica inédita, se o programa de governo foi executado, se Pizarro foi um aliado credível, porque deixou o PS nacional de apoiar a candidatura de Rui Moreira? Os partidos não conseguiram ainda entender os princípios de um movimento livre, independente e abrangente como o que lidera a Câmara. A motivação dos aparelhos cinge-se à disputa de lugares e ao respetivo posicionamento nas listas. Seria possível haver apoio do PS se Rui Moreira cedesse aos "apetites" do seu diretório nacional. Não sendo bem-sucedido na pressão, o PS afastou-se. Assim, as diferenças vão ficar mais claras.
Se para Rui Moreira as prioridades são o Porto e os portuenses; para os partidos tudo continua a resumir-se a uma questão de poder. O PS, depois do Porto ou de Matosinhos, vira-se agora para problemas do género em Braga. E aqueles que diziam que Rui Moreira não mandava na Câmara reconhecerão os fundamentos e as virtudes de um projeto independente, liderado por alguém com carisma, personalidade e competência que não é movido por um comando à distância a partir do Largo do Rato. Os partidos tiveram quatro anos para perceber a realidade política do Porto. É muito tempo. Continuam a não perceber nada.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO