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Seria avisado enxamear o país (e o Mundo) de sinais de perigo a cada metro quadrado? A resposta só pode ser sim, tantos os ódios de estimação prontos a espoletar em todas as direcções.
A factualidade, de resto, potencia os profetas da desgraça. E os portugueses estão na primeira linha do acabrunhamento e do pessimismo.
Pergunta-se a um brasileiro sem eira nem beira: "Como está?" E ele responde: "Na boa!". Um espanhol retorquirá: "Bien!". Já a regra portuguesa divide-se entre duas fórmulas, ambas definidoras de um estado de espírito pouco animado. É garantido o "mais ou menos" ou o "vou andando" - mesmo quando o cidadão está parado, à espera do autocarro ou na fila da repartição de Finanças.
O ambiente geral, claro, não ajuda nada à descompressão. Os jornais (pois...), as rádios, as televisões, agora até os detentores de blogues, focam-se nas vertentes negativas da vida - os impostos, o desemprego, as doenças, a falta de médicos, o aumento dos preços dos transportes, a zanga das comadres, os pedintes, enfim, toda a panóplia conhecida, e daí resulta, também, um certo enquistamento da sociedade. Dá-se um contágio semelhante ao susceptível de acontecer por via da propagação da actual crise (lá está...) grega a Portugal.
Os casos de elevação do astral e da auto-estima são raros - ficam tipificados pelos sucessos do futebol, cujo gozo acaba por ser transversal a toda a sociedade, e pouco mais...
Não, não se trata de um apelo à irresponsabilidade, individual ou colectiva, mas seria de todo aconselhável a adopção de um estado de espírito nacional bem menos sadomasoquista. Creia, caro leitor, uma forma de estar menos acabrunhada a todos será favorável - diminuirão desde logo as filas de espera nas urgências (entupidas) dos hospitais e as despesas em ansiolíticos e antidepressivos do Ministério da Saúde.
Não é aconselhável passar ao lado dos problemas e dos factos susceptíveis de mudarem a face do Planeta. A morte de Kadafi, ontem - colocando-se fim ao terrorista que passou a amigo e voltou a ser terrorista - e o anúncio oficial da abdicação da ETA às armas não são negligenciáveis. Como o não é o aumento da taxa de desemprego. Mas é essencial relativizar a vida.
Veja só: um pastor evangélico de 90 anos profetiza o fim do Mundo para a 1.00 hora portuguesa deste sábado (Ver página 8). Já percebeu restarem poucas horas para dar alguma felicidade ao sentido de estar vivo?
Ora, ora. O pastor é norte--americano, mas fixou-se num furor que encheu o ego de Portugal. Lembra-se o leitor da ousadia do grupo musical constituído pelas "Doce", vencedor de um festival da canção (1982) no tempo em que o país parava em frente ao televisor e protagonista de "Bem bom"?
"Uma da manhã, ei bem bom...". Pois. O pastor ouviu as meninas...