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As projeções de população que o Instituto Nacional de Estatística divulgou esta semana são assustadoras. Quer no que diz respeito ao inferno demográfico em que o nosso país como um todo se arrisca a mergulhar nas próximas décadas, quer pelo facto de se perceber que o caminho que estamos a percorrer nos conduz para uma distopia em que, para além de Lisboa, tudo o resto será efetivamente paisagem. Ao dizê-lo, já não estaremos apenas a reproduzir uma frase vagamente inspirada em "Os Maias" de Eça de Queiroz, já não estaremos a denunciar a arrogância da elites que gravitam (e dependem) no Terreiro do Paço, estaremos a descrever a realidade.
De acordo com as projeções do INE, baseadas nas tendências atuais de natalidade, mortalidade e migrações, e no seu cenário central, Portugal vai de novo começar a perder população dentro de poucos anos, para chegar ao final do século com 8,3 milhões de residentes (agora somos quase 11 milhões). Como se isto já não fosse preocupante, pelo que representa em termos de envelhecimento e empobrecimento, o INE destacou um outro dado, muito citado: se Portugal deixasse de atrair imigrantes, ficaria reduzido a seis milhões no final do século.
Do que se fala menos é de uma outra consequência. Apesar da queda generalizada no país (com o Norte a destacar-se, perdendo metade da população), a região em redor da capital (Grande Lisboa e Setúbal) continuará a acumular cada vez mais gente. O que significa que naquelas duas margens do troço final do Tejo, sempre com vista para o Terreiro do Paço, viverá 40% da população (agora são 28%). É este o país que se está a construir: cada vez mais centralista, com os recursos (financeiros, científicos, sociais ou humanos) concentrados em poucos quilómetros quadrados, abandonando-se tudo o resto. Porto, Braga, Aveiro, Viana do Castelo, Vila Real ou Bragança não vão desaparecer, mas serão cada vez mais irrelevantes. Peças de museu para turistas que arribem à capital e queiram conhecer antigas paisagens urbanas.