A divulgação do ranking das escolas trouxe-me à memória episódios que presenciei no Japão e o debate que essas listas suscitam.
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Em Portugal, várias vozes moderam o valor e alcance destes resultados, que se limitam a comparar exames nacionais, sem considerar, por exemplo, o progresso das escolas. Ministro e secretário de Estado desvalorizaram o ranking e destacaram a inclusão como indicador determinante da qualidade da escola. Também vários professores se pronunciaram para mostrar que os resultados nada dizem sobre o imenso trabalho desenvolvido, por exemplo, em escolas mais problemáticas. No caso das escolas privadas, que continuam a ocupar o topo da lista, os rankings são uma espécie de comprovativo de bom investimento e, talvez por isso, sejam as mais entusiastas da sua divulgação.
Num acutilante artigo como é seu timbre, António Guerreiro compara a competição das escolas ao ágon dos antigos gregos que se traduzia na vontade permanente de combate, sem o lado virtuoso, reduzindo o estudo à preparação para uma corrida de obstáculos cuja meta é o mercado de trabalho.
Pouco interessa o crescimento como pessoa, a resiliência, o espírito crítico ou a superação de dificuldades. Trata-se de ser colocado numa pole position que assegure o resultado final. A escolha da melhor escola faz-se desde a primeira infância, de forma a garantir entrada nos cursos com melhores saídas profissionais e por aí fora. Vida resolvida.
Podemos criticar os pais por estas preocupações? Todos os que o podem fazer estão genuinamente convictos de escolher o melhor para os filhos. O problema pode ser mais fundo, e decerto é, porque não somos todos iguais e as consequências das mesmas escolhas podem ser muito diversas.
No Japão, considerado um dos melhores sistemas de ensino, as mães têm como tarefa assegurar que os filhos entram na escola infantil certa para aceder à fileira de escolas que garantem as melhores universidades. Recordo as descrições humorísticas das guerras de mães para conseguir a almejada vaga para os filhos de 3 anos. O Japão tem uma das mais elevadas taxas de suicídio infantil e adolescente, com dias e períodos de pico que coincidem com a divulgação das classificações, o que tem levado as autoridades a sensibilizar os pais para a importância da felicidade como alternativa ao sucesso. Em Portugal, e ainda bem, muitos pais dizem que o melhor que desejam aos filhos é que sejam felizes.
Professora universitária
