Mal o meu velho portátil LG comunicou que o disco estava a ficar cheio, trouxe-o logo para o jornal e pedi ajuda. Calhou ser o Simão a debelar o problema. Os motores de busca consomem bastante espaço e eu tinha três. Fiquei com o Chrome, que chega e sobra para as encomendas. E assim por diante. Com mais dois ou três golpes destes, bem aplicados, dizimando temporários, esvaziando o lixo, o computador deixou de se queixar e ficou mais rápido.
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Tenho muita pena que este processo de limpeza informática não seja aplicável ao nosso disco duro, que com o passar dos anos começa a ficar mais lento e curto de espaço, por estar atulhado com informação acumulada ao longo da vida que já há muito deixou de ser relevante.
Ainda sei de cor o número mecanográfico da tropa (128949/77), a primeira frase da lição que li, traduzi e interpretei na oral de Latim do 5.º ano (Cum Lisander lacedemonian solebat dicere, Lacedemonia honestissimum domicilium senectutis erat) e o número de telefone de casa dos meus pais (6866186).
Por muito que me esforce não consigo deletar estas informações imprestáveis, atirando-as para o reclyced bin e criando espaço para coisas mais úteis como, por exemplo, o meu NIF, para o debitar quando no restaurante, livraria, farmácia ou supermercado me perguntam se quero a fatura com o NIF - e assim habilitar-me, sem mais despesas ou canseiras, à Lotaria Fiscal.
Apesar de só por uma vez ter jogado na Lotaria (em 1979, acabado de chegar à Revisão do JN, achei que me ficaria mal não contribuir para o bilhete da Lotaria de Natal que era hábito a secção comprar), olho com simpatia para a ideia do Governo de aproveitar a nossa paixão pelos jogos (demonstrada pela febre pelo Euromilhões e as raspadinhas) para combater a economia paralela, que vale entre 25% a 30% do PIB.
Com um investimento de 10 milhões de euros nesta lotaria (a Fatura da Sorte), o Governo espera aumentar em 600 a 800 milhões de euros a receita fiscal. Um bom negócio. Quem, como eu, está preocupado com o saneamento das finanças públicas só pode bater palmas.
O que já me parece chunga é a escolha para prémio cenoura de automóveis, que são responsáveis por 12% das emissões de CO2 que a UE quer cortar para metade até 2050. O Governo está não só a transmitir uma mensagem errada como também a desperdiçar uma boa oportunidade para fazer pedagogia.
Em vez de sortear um automóvel por semana, a Autoridade Tributária brilharia se aplicasse os 10 milhões num cabaz de prémios, constituído por certificados de Tesouro e de Aforro e passes vitalícios para os transportes públicos do Porto e Lisboa - ou na CP, para quem vive fora das áreas metropolitanas.
Assim, não só estimulava a poupança e o uso de transportes públicos, como ainda por cima tornaria a lotaria mais atrativa, pois ganhar um carro na Fatura da Sorte é quase tão difícil como acertar no Euromilhões - quem tiver mil faturas numa semana a chance de ganhar um carro é de 0,0026315%!