A pretensão portuguesa de acolher a sede da Agência Europeia do Medicamento, que, por causa do Brexit, vai ter de sair de Londres, é uma causa perdida. A candidatura de Lisboa, apresentada pelo Governo de forma encapotada, está condenada a revelar-se um ato falhado. Já a marginalização do Porto, a cidade que reunia as melhores condições para receber aquele organismo da União, é reveladora de um centralismo bacoco, contra o qual é preciso continuar a levantar a voz.
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O Governo de António Costa, já o disse e escrevi várias vezes, é o mais descentralizador de que tenho memória. No que leva de mandato, tem algumas provas dadas na matéria, tendo devolvido aos municípios, por exemplo, a gestão das águas e dos transportes. Mas, com demasiada frequência, a "doença" centralista acaba por se sobrepor ao objetivo de um país equilibrado e, por isso, mais saudável.
O caso da Agência do Medicamento é revelador e vergonhoso. Revelador, porque ao contrário do que sucede em toda a Europa - onde a maioria das instituições estão deslocalizadas, fora das capitais -, Portugal aposta em inundar ainda mais Lisboa de serviços e funcionários públicos. Vergonhoso, porque o secretismo e a ausência de debate público da questão levaram a que a hipótese mais qualificada, o Porto, não chegasse sequer a ser considerada.
Em poucas mas esclarecedoras palavras é possível resumir porque seria a da cidade do Porto uma candidatura meritória e vencedora: i3S, IPATIMUP, os dois melhores hospitais públicos portugueses (S. João e Santo António), o "Health Cluster" com 8 mil graduados/ano em estudos avançados na área, milhares de investigadores e quase duas centenas de instituições associadas, Universidade do Porto, Faculdade de Farmácia, Sobrinho Simões, Bial. Chega? É que podemos sempre acrescentar o melhor aeroporto da Europa na sua categoria, um sistema de transportes moderno e eficaz, o clima, a segurança, a qualidade de vida, o dinamismo económico ou a vocação global.
António Costa e o seu Governo, numa lógica que é apenas parola, escolheram Lisboa (que já acolhe duas agências europeias, por sinal). Ao fazê-lo, condenam a candidatura portuguesa a uma derrota quase certa. Ao fazê-lo, agravam o espírito centralista que o Estado português é incapaz de contrariar. Nós, no Norte, estamos habituados. E, já que falamos em medicamentos, não precisamos de aspirinas nem ficamos com azia. Pelo contrário. Lembramo-nos, caso andássemos esquecidos, que é sempre preciso continuar a lutar por país mais justo e equilibrado. Aos senhores do Governo, a propósito, talvez fizesse falta um frasco de comprimidos de bom senso...
Aos senhores do Governo, a propósito, talvez fizesse falta um frasco de comprimidos de bom senso...
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO