Ontem, estava marcada uma reunião entre a TAP e o sindicato do pessoal da aviação civil. Motivo? Evitar a greve que está agendada para amanhã e depois.
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Não é fácil perceber a utilidade deste encontro à 25.ª hora. Tanto mais que a paralisação está anunciada há muito e os danos já provocados são irreversíveis: 360 voos cancelados em dois dias e uma perda de receita estimada na casa dos oito milhões euros. Leram bem: são mais oito a somar à conta corrente de muitos milhões que, nos últimos anos, a companhia aérea extorquiu aos contribuintes.
O timing desta greve é deveras desastroso. Estamos num contexto de franca recuperação da atividade turística, num período relevante de procura interna e externa por voos comerciais e numa fase em que, não obstante todas as críticas já aqui produzidas à reestruturação da empresa, a TAP carece de estabilidade na sua operação.
O direito à greve e às reivindicações salariais não justificam atos de total irresponsabilidade social como este. Além de ser uma paragem irracional, é também uma imoralidade e uma ofensa aos cidadãos portugueses que, neste mês de dezembro, pagam a última fatura - 990 milhões de euros - de um resgate financeiro superior a 3,2 mil milhões. Os trabalhadores da TAP são tão dignos como qualquer outro português que trabalha e sustenta, através dos seus impostos, estas tropelias.
Mas este episódio é também sintoma de uma empresa desgovernada, com atos de gestão, no mínimo, questionáveis e com prejuízos acumulados, que não impedem salários de milhões. Pior: continua sem garantir a coesão territorial e sem libertar os slots que detém no Porto. Tivesse havido coragem política para tomar, em tempo útil, as medidas necessárias e hoje teríamos uma companhia aérea saneada financeiramente e com uma massa salarial ajustada aos seus resultados.
PS: Contrariamente à TAP, a Metro do Porto tem sido uma empresa que prestigia a gestão pública, serve bem os seus clientes e respeita os contribuintes. No dia em que cumpre 20 anos de operação, aqui fica o contraponto e o meu elogio a um serviço que transformou a mobilidade na região.
*Presidente Associação Comercial do Porto