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Fui aluno do Liceu Nacional de Alexandre Herculano, agora designado por Escola Secundária. Descontada a componente emocional própria da fase da vida entre os 12 e os 17 anos, são muitas as boas memórias desse tempo. Tive excelentes professores, uma classe na época muito prestigiada, que ajudou a formar milhares de pessoas ao longo de muitas décadas. Nomes como Gaspar da Costa, Carvalho Homem, Seruca, Olívio Carvalho, Agostinho Gomes ou Cruz Malpique, para citar só alguns e com injustiça para muitos mais, foram valores que consagraram a qualidade de ensino da instituição, sempre renovada por jovens professores em início de carreira, de que destaco uma grande senhora do Douro como é Laura Regueiro. Finalmente, figuras como o padre Brochado, diretor do jornal "Prelúdio", o professor de Canto Coral ou a figura sábia, amiga e austera do reitor Martinho Vaz Pires, tornaram indelével a nossa matriz alexandrina.
O liceu cobria toda a zona oriental da cidade, para além de concelhos limítrofes como Gondomar e Valongo, sendo apenas frequentado por alunos do sexo masculino. O liceu feminino era do outro lado da rua, no Rainha Santa Isabel. Os intervalos eram desfasados de forma a evitar encontros, o que estava longe de ser conseguido. Durante muitos anos o cimento mandado colocar pelo reitor entre os postes de iluminação e o muro do liceu, foi a prova dos malabarismos em que nos especializamos, com saída discreta pelo campo de jogos, descida em rapel pelas colunas de iluminação e regresso invisível pela porta do meio.
O liceu estava sempre impecavelmente limpo. Nos intervalos jogava-se futebol no recreio do meio, sendo que cada árvore era uma baliza na qual a bola tinha de bater para ser golo! Já na altura se destacava alguém que anos mais tarde haveria de ganhar duas botas de ouro.
Devemos obviamente aprender com os erros que nos levaram a gastar no QREN 2007-2013, só na Região Norte, quase o triplo do orçamento inicial de 300 milhões de euros. Não foi fácil convencer a Comissão Europeia a aceitar mais verbas para escolas no Portugal 2020, em que apesar de tudo o Norte tem quase metade do valor disponível. É verdade o que diz o presidente da Câmara do Porto no que à não responsabilidade direta desta entidade diz respeito. Mas estamos certos de que neste momento difícil saberemos encontrar a solução.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO PORTO