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Há quase mil anos que se discute com paixão se o país tem futuro. Há sempre quem tenha acreditado que acabaríamos engolidos por Castela, pelos árabes, por Napoleão, pelo mar, pelas estrelas, pelo raio que nos parta. Discutimos o futuro, mas também as reformas. Desde Sancho que gritamos por elas e a palavra é brandida como se fosse o Santo Graal descoberto no sepulcro do Marquês de Pombal, na Igreja da Memória. Há agora uma malta que anda doida com a 157.ª tentativa de reforma da Administração Pública e uma ministra empenhada em parecer implacável. Não quero falar do regime de amamentação das mães, e das declarações da Palma Ramalho baseadas num falso pressuposto, ou nas suas propostas de revisão do código laboral, com boas ideias para as empresas e más para os colaboradores das empresas - a palavra "trabalhador" está sequestrada e em parte incerta. Quero apenas notar a falta de empatia. A frieza de que deseja dar mostras. A arrogância como marca. Não pensem que a ministra irá ficar triste com a adjetivação, isto para ela são elogios e a certeza de que está a ir bem, a convicção de que sempre existiram e sempre existirão os que mandam e os que são mandados, os ricos e os que nunca o serão, os que criam emprego e os que dependem de um emprego, os vencedores e os vencidos, os empreendedores e os poetas. Ramalho é um exemplo de buldózer ideológico. Fará o que precisar de fazer. Sem estados de alma, sem remorsos, sem precisar de confessar pecados ao padre que a escuta se, porventura, for católica.