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O meu primeiro texto neste espaço do JN foi sobre o desemprego. Tragédia que afeta milhares de famílias portuguesas. Perspetivas sombrias para cerca de um terço dos jovens, que não têm emprego. Situação dramática para quase 400 mil portugueses que estão sem trabalho há mais de um ano. Volto ao tema nesta minha última nota. Apesar da redução entretanto registada no desemprego, o problema continua a ter uma dimensão preocupante. As políticas de apoio social são, sob este ponto de vista, decisivas. Mas a solução deve ser essencialmente económica. Deve ser o dinamismo da economia a criar empregos suficientes de modo a que seja possível que todos os portugueses que desejam trabalhar para o progresso do país o possam fazer.
No curto prazo, numa conjuntura internacional desfavorável, a procura interna pode dar um contributo decisivo para o crescimento e a criação de emprego. Mas no médio e longo prazo, numa pequena economia como a portuguesa, o reforço da sua presença nos mercados externos terá de ser o grande motor do crescimento económico. A capacidade de penetração nestes mercados, a chamada competitividade, depende fundamentalmente dos custos de produção. Mas a qualidade e novidade dos produtos, da sua imagem e reputação são também fatores decisivos que determinam a sua aceitação nesses mercados.
Produzir com custos mais vantajosos face aos nossos concorrentes e inovar são pois dois fatores decisivos na busca permanente por uma posição externa competitiva. Mas custos mais baixos não são necessariamente sinónimo de salários baixos. Essa foi a solução mais fácil, uma solução empobrecedora. A melhoria da produtividade também reduz custos sem desvalorizar o trabalho. Aliás é a única forma de, simultaneamente, tornar os produtos mais baratos e valorizar o trabalho. Uma política apostada no crescimento e na criação de emprego deve pois focar-se na melhoria da produtividade. Uma melhoria que só se consegue com investimento significativo em inovação e desenvolvimento tecnológico, que fomentem a adoção de tecnologias mais avançadas e a produção e oferta de novos produtos e serviços. Melhoria nos padrões de organização e gestão fomentando uma cultura de excelência, eficiência e qualidade. Investimento na qualificação dos portugueses através do sistema de educação e formação profissional.
O nosso dia a dia tem sido dominado pelos receios suscitados pelas debilidades financeiras que afetam a economia portuguesa, designadamente o elevado crédito malparado e a dimensão da dívida pública e consequentes riscos para as empresas e bancos. Urge dar sinais de que tais debilidades serão ultrapassadas para que a confiança na economia portuguesa se restabeleça e consolide e para que, de uma vez por todas, a aposta no crescimento, no emprego e nos investimentos necessários passe a estar, de uma vez por todas, no centro das nossas atenções.
*ECONOMISTA