Em semana de muitos concertos comemorativos do santo popular da cidade do Porto recordei-me de uma notícia referente a um espetáculo recente de um “rapper” norte-americano, que passou a pertencer àquilo a que resolvi chamar aqui a nova geração de “manjericos”.
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Tudo isto porque este artista, Lil Wayne, decidiu interromper o concerto que estava a dar nos Estados Unidos com a incrível justificação de que o público não estava a vibrar com a intensidade que ele achava que merecia. Convém esclarecer que neste concerto todos os espectadores tinham pago o seu bilhete e desconheço que algum deles tenha assinado algum compromisso referente ao nível de “vibração” que deveria assegurar durante a realização do concerto.
Do mesmo modo, tanto quanto sei também, nenhum espectador recebeu algum dinheiro de volta, ou qualquer indemnização pecuniária, em função do prejuízo efetivamente sofrido com a interrupção extemporânea do concerto motivada apenas e só por uma decisão pessoal e unilateral do artista.
Este tipo de atitude ainda não é um comportamento padrão. Por isso, é como uma triste exceção que devemos olhar para ele, mas importa não reagir com indiferença até para que este tipo de atitudes não passem a ser encaradas como um sinal dos tempos. Nos dias que correm julgo que a maioria dos espectadores deste tipo de eventos continuará a não aceitar que um artista interrompa a meio o seu espetáculo com a justificação de que o público não está a vibrar suficientemente com a atuação. Também não tenho dúvida que qualquer instituição empenhada na defesa do consumidor há de estar alinhada com esta profunda convicção de que um espectador que paga o seu bilhete tem direito a usufruir do espetáculo pago, sem que o seu comportamento tenha de corresponder aos desejos mais estranhos do artista contratado.
O manjerico, que é como todos sabem a planta por excelência do nosso S. João, tem uma estrutura delicada que aceita que lhe toquemos com o objetivo de desfrutar do seu cheiro, mas exige que essa operação seja feita com jeitinho. É inspirado nestas características que eu me lembrei de considerar os artistas que fazem o que fez Lil Wayne como integrando uma nova geração de “manjericos”.
Quando uma pessoa compra um bilhete para determinado espetáculo (ainda por cima cada vez mais caros) era o que faltava que estivesse incluído nesse preço a possibilidade de o artista cancelar a meio a sua atuação, só porque entende a dado momento que quem pagou para o ver não está a vibrar como ele gostaria que estivesse.
*Empresário