São tempos de luz estes que se abrem por estes dias. As ruas estão mais iluminadas. E nós sentimos uma nova esperança, mesmo para travessias que nos parecem mais sombrias. Para lá das convicções religiosas, o Natal tem essa magia: fazer-nos acreditar que é sempre possível renascer.
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Não gosto da azáfama natalícia: das prendas que se despacham à pressa, das ruas que se enchem de gente ansiosa, do trânsito que engrossa impacientes filas... Perante essa pressa, dou por mim a reduzir a lista de presentes a comprar, a andar mais devagar e a circular por vias cada vez mais alternativas. É, decerto, uma defesa para me proteger de um desenfreado consumo que me incomoda...
Por estes dias, regresso àquilo que sempre me cativou nesta quadra: o presépio. Pela (minha) convicção religiosa, mas, acima de tudo, pelo seu simbolismo. Ali está um menino que nasce numa manjedoura, longe da imponência dos castelos ou da riqueza de classes abastadas, e que subitamente ganha uma enorme centralidade sobre tudo o que está à sua volta. Ali está ele em palhinhas deitado a lembrar-me que de nada vale o deslumbramento perante poderes efémeros. Ali estão os seus pais numa infinita dedicação que se verga incondicionalmente perante uma criança indefesa. Ali estão aqueles que vão adorá-lo com os mais singelos ou magníficos presentes, não se distinguindo classes ou valor das ofertas. Tudo ganha outro sentido. E outra luz.
Perante tão revolucionário quadro, procuro fazer silêncio, porque nenhuma palavra ou som conseguem atingir a essência desta representação. Que continua hoje tão atual a lembrar a todos de que nada valem a arrogância, a superioridade, a violência, a altivez.... Afinal, tudo é muito simples, quando nos centramos no essencial que importa reter.
Vou procurar ter este quadro mais presente e, claro, vou também olhar mais o céu e parar em certas estrelas que estão sempre na minha vida, agora em forma de uma luz especial. Na noite de Natal, lá estarei eu na janela a observar o céu, porque sei que dali vem uma força inexplicável que me faz acreditar com convicção que, mesmo em tempos mais escuros, há sempre uma oportunidade para (re)nascer.
E aqui está o Natal a abrir uma enorme esperança que nos motiva a caminhar por revigorantes caminhos, a prestar mais atenção às pessoas que nos querem realmente bem, a separar o essencial daquilo que é indiscutivelmente trivial. Essa luz que brilha neste tempo natalício é preciosa. Que todos saibamos aproveitá-la. Um Natal feliz para todos!
*Professora Associada com Agregação da UMinho